Requisição de Análises de “Rotina” em Medicina Geral e Familiar: Um Estudo Observacional Transversal Analítico Baseado na Prática em Portugal

Introdução: Em Portugal os utentes têm a convicção de que devem realizar análises laboratoriais mesmo na ausência de fatores de risco, nomeadamente história familiar. Estas são designadas análises de “rotina”. O presente estudo pretendeu analisar o padrão de requisição de análises de “rotina” em Medicina Geral e Familiar em Portugal.
Material e Métodos: Desenvolvemos um estudo observacional transversal analítico que teve como população alvo os médicos pertencentes aos cuidados de saúde primários em Portugal. Os médicos foram questionados quanto ao seu padrão de requisição e sobre quais os motivos da requisição ou não de análises de “rotina”. As questões tiveram por base as análises clínicas mais prescritas pelos médicos do Agrupamento de Centros de Saúde Lisboa Central.
Resultados: A maioria dos médicos afirmou prescrever análises de “rotina” (51,4%). Verificou-se uma relação estatisticamente significativa entre ser especialista e a requisição de análises de “rotina” (p = 0,013). As análises clínicas mais prescritas na idade adulta foram a determinação de colesterol total (92,2%) e de glicemia. Na idade pediátrica foram a determinação de glicemia, de colesterol total e o hemograma. A maioria dos médicos (79,4%) que prescreve análises de “rotina” fá-lo como forma de rastreio e os não prescritores não realizam análises maioritariamente (80,8%) porque não se encontra de acordo com a evidência científica.
Discussão: No nosso estudo observámos diferenças na prática de Medicina Geral e Familiar em Portugal, nomeadamente no que diz respeito à requisição de análises de “rotina” por médicos de diferentes regiões, graus de especialização e idade. Verificámos que existe uma associação entre prescrever análises de rotina e o pedido das mesmas para realização de rastreio o que parece demonstrar que os médicos que referem prescrever análises de “rotina” têm a intenção, com as mesmas, de rastrear diversos tipos de patologia, embora os doentes não apresentem sintomatologia ou riscos que o justifiquem. A maior parte dos médicos que não prescreve análises de “rotina”, não concordam com o rastreio de indivíduos assintomáticos o que está de acordo com a evidência.
Conclusão: Os nossos resultados sugerem que existe um pedido excessivo de análises de “rotina” que pode levar a sobrediagnóstico e sobretratamento sendo para isso necessária a criação de estratégias globais de marketing social para mudar a cultura vigente.

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