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Revista Científica da Ordem dos Médicos
Introdução: A síndrome inflamatória multissistémica em crianças (MIS-C) é uma manifestação rara, mas grave da doença por coronavírus 2019 (COVID-19). Este estudo teve como objetivo descrever as características de crianças com MIS-C internadas num hospital pediátrico terciário em Portugal.
Material e Métodos: Estudo observacional e descritivo de doentes com MIS-C internados de abril de 2020 a abril de 2021. Analisaram-se dados demográficos, clínicos, exames de diagnóstico e terapêutica. O diagnóstico baseou-se nos critérios da Organização Mundial de Saúde e Centers for Disease Control and Prevention.
Resultados: Foram identificadas 45 crianças, com mediana de idades de sete anos (AIQ 4 - 10 anos) sendo 60,0% previamente saudáveis. A infeção por SARS-CoV-2 foi confirmada por RT-PCR ou serologia em 77,8% dos doentes e 73,3% tinham link epidemiológico. Todos os casos cursaram com febre e envolvimento multiorgânico: hematológico (100%), cardiovascular (97,8%), gastrointestinal (97,8%), mucocutâneo (86,7%), respiratório (26,7%), neurológico (15,6%) e renal (13,3%). O envolvimento neurológico (p = 0,035) e respiratório (p = 0,035) ocorreu nos doentes mais graves. Houve uma diferença significativa das medianas quando comparados grupos de gravidade da doença, nomeadamente nos valores de hemoglobina (p = 0,015), linfócitos (p = 0,030), D-dímeros (p = 0,019), albumina (p < 0,001), NT-proBNP (p = 0,005), ferritina (p = 0,048), pCr (p = 0,006), procalcitonina (p = 0,005) e IL-6 (p = 0,002). Destas crianças, 93,3% realizaram imunoglobulina intravenosa, 91% metilprednisolona e um (2,2%) realizou anakinra. Treze doentes (28,8%) necessitaram de cuidados intensivos e não se registaram óbitos. Dos 21 doentes avaliados seis meses após a alta, 90,4% apresentaram diminuição da tolerância ao esforço e 8/15 (53,3%) lesão cardíaca persistente.
Conclusão: Observámos um amplo espectro de apresentação da doença num grupo de doentes previamente saudável, na sua maioria. Uma pequena percentagem de pacientes (28,9%) teve uma apresentação grave da doença. O diagnóstico da MIS-C é um desafio na prática clínica atual e requer um elevado nível de suspeição pois o início atempado de terapêutica é fundamental para prevenir complicações. No entanto, não existe ainda consenso científico sobre a melhor terapêutica e seguimento destes doentes.
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