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Revista Científica da Ordem dos Médicos
Introdução: Recentemente, a simulação como método educacional ganhou uma importância crescente na Medicina. No entanto, a educação médica tem favorecido a aquisição de conhecimentos e competências individuais, ao mesmo tempo que ignora o desenvolvimento de competências de trabalho em equipa. Uma vez que a maioria dos erros na prática clínica se deve a fatores humanos, ou seja, a competências não técnicas, o objetivo deste estudo foi avaliar o impacto que a formação num ambiente de simulação tem no trabalho de equipa num ambiente de licenciatura.
Material e Métodos: Este estudo teve lugar num centro de simulação com uma população de 23 participantes, alunos pré-graduados do quinto ano de Medicina, divididos aleatoriamente em equipas de quatro elementos. Foram simulados um total de 20 cenários de trabalho em equipa na avaliação inicial e de ressuscitação de doentes com traumatismo crítico. Três momentos de aprendizagem distintos (antes do treino, final do semestre, e seis meses após o último treino) foram gravados em vídeo, seguindo-se uma avaliação duplamente cega por dois observadores independentes, que aplicaram a ferramenta de observação de desempenho de equipas de trauma TPOT. Além disso, foi aplicado o questionário de atitudes de trabalho em equipa STEPPS (T-TAQ) à população do estudo antes e depois da formação, a fim de avaliar qualquer mudança nas atitudes individuais em relação às competências não técnicas. Considerou-se um nível de significância a 5% (ou 0.05) para a análise estatística.
Resultados: Houve um nível moderado de acordo entre observadores (Kappa = 0,52, p = 0,002). Obteve-se uma melhoria estatisticamente significativa na abordagem global da equipa, evidenciada pelas pontuações do TPOT (mediana de 4,23, 4,35 e 4,50, nos três momentos de avaliação respetivamente, p = 0,003). No T-TAQ, houve uma melhoria estatisticamente significativa num grupo de competências não técnicas, "Apoio Mútuo" (mediana de 2,50 para 3,00, p = 0,010), que não foi observado nos restantes grupos de competências não técnicas.
Conclusão: Neste estudo, a incorporação da educação e formação não técnica no ensino médico pré-graduado foi associada a uma melhoria sustentada do desempenho da equipa na abordagem ao paciente do trauma simulado. Deve ser considerada a introdução, no ensino pré-graduado, da formação de competências não-técnicas e do trabalho em equipa no contexto de emergência.