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Revista Científica da Ordem dos Médicos
Introdução: A pandemia de COVID-19 trouxe desafios aos serviços de saúde. À medida que o número de indivíduos afetados aumenta, é crucial encontrar abordagens preventivas, diagnósticas e terapêuticas. Este estudo tem como objetivo descrever diferentes sequelas de COVID-19 numa população dos Cuidados de Saúde Primários.
Métodos: Estudo de coorte retrospetivo de indivíduos adultos diagnosticados com COVID-19 entre março 2020 e abril 2022, excluindo grávidas, menores, residentes em Estrutura Residencial para Pessoas Idosas, internados e óbitos. Colheu-se informação através da plataforma Trace COVID-19®, um questionário pré-estabelecido (que incluiu a versão portuguesa do Instrumento Abreviado de Avaliação da Qualidade de Vida da Organização Mundial da Saúde) e, quando necessário, registos clínicos dos utentes. Foi obtida informação sobre as características sociodemográficas e clínicas no momento de infeção aguda juntamente com sintomas de long COVID.
Resultados: Estudaram-se 284 doentes com COVID-19, entre os 19 e os 99 anos. Os cinco sintomas agudos de COVID-19 mais prevalentes foram febre (50,0%), cansaço (48,2%), mialgias (44,7%), tosse seca (37,7%) e odinofagia (36,3%). Os sintomas relacionados ao sistema neurológico (23,2%) e cansaço (22,9%) foram os mais prevalentes na long COVID. Cansaço e artralgia agudos foram associados a todas as situações de long COVID. Associações entre sintomas agudos e sintomas de long COVID foram maiores entre anosmia e capítulo neurológico [OR = 5,07, intervalo de confiança (IC) 95%, 2,49 – 10,36, p < 0,001], cansaço agudo e cansaço prolongado (OR = 4,07, IC 95%, 2,07 – 8,02 p =0,041), fadiga e capítulo músculo/esquelético (OR = 7,55, IC 95%, 3,06 – 18,66, p < 0,001), cansaço e capítulo endócrino/hormonal (OR = 6.54, IC 95%, 2,37 – 18,04, p < 0,001), dispneia e sintomas respiratórios (OR = 5,67 IC 95% 1,92 – 16,74, p = 0,002) e por fim febre e capítulo gastrointestinal (OR = 8,06, IC 95%, 2,55 – 25,47, p < 0,001). Quase todas as dimensões da qualidade de vida foram associadas negativamente ao número de sintomas de long COVID.
Conclusão: Um maior número de sintomas agudos, bem como a presença de sintomas específicos de COVID-19, foram associados a sintomatologia ≥ 12 semanas após a infeção. Na população estudada, um aumento no número de sintomas, quer na COVID aguda quer na long COVID, teve um impacto negativo significativo na perceção da qualidade de vida geral. A identificação dessas relações poderá trazer uma nova perspetiva de cuidados pós-COVID.
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