REDES SOCIAIS
Revista Científica da Ordem dos Médicos
A fibrose quística é a doença genética letal mais comum na população branca, afetando aproximadamente 80 000 pessoas em todo o mundo. É uma doença autossómica recessiva, monogenética e multissistémica, estando descritas mais de 2000 mutações no gene da proteína CFTR. A disfunção desta proteína leva à diminuição da secreção de cloro e de bicarbonato, hiperabsorção de sódio e consequentemente de água, resultando no espessamento das secreções e acumulação de agentes patogénicos. Estas alterações culminam em inflamação, infeção pulmonar crónica e agudizações recorrentes, sendo a doença pulmonar a principal causa de morbilidade e mortalidade. Nas fases iniciais da doença, o Staphylococcus aureus é, geralmente, o agente responsável pela infeção crónica. Com o tempo, a Pseudomonas aeruginosa vai adquirindo um papel mais preponderante, sendo a bactéria mais frequente nos adultos. Contudo, em até 70% dos doentes, a colonização é polimicrobiana, sendo frequente o isolamento de S. aureus e P. aeruginosa, associado a Haemophilus influenzae ou Streptococcus pneumoniae, bem como o isolamento de outros agentes bacterianos, vírus ou fungos. Nos últimos anos foram desenvolvidos fármacos moduladores da CFTR, que demonstraram efeito positivo na função pulmonar, índice de massa corporal, taxa de exacerbações, concentração de cloro e qualidade de vida. Atualmente, estão aprovados quatro fármacos que atuam melhorando a função ou aumentando a quantidade de proteína produzida e consequentemente o transporte dos iões. Apesar de a evidência até ao momento sugerir uma incapacidade de os moduladores erradicarem os patógenos, principalmente, em indivíduos com doença pulmonar estabelecida, a maioria dos estudos demonstrou diminuição da carga bacteriana (redução da positividade dos exames microbiológicos), traduzindo uma ação dos moduladores na infeção e inflamação. Isto pode justificar em grande parte os resultados positivos observados nos ensaios clínicos. Nesta revisão, analisamos a evidência científica sobre o impacto da terapia moduladora na infeção crónica. A maioria dos dados publicados até ao momento são relativos ao ivacaftor, sendo ainda muito limitados os dados relativos ao efeito da terapêutica dupla ou tripla.