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Revista Científica da Ordem dos Médicos
A gasometria arterial, com consequente punção arterial radial enquanto forma simplificada de acesso, constitui um procedimento médico ubíquo na abordagem diagnóstica dos doentes que recorrem ao serviço de urgência por dispneia. Apesar de se tratar de um procedimento relativamente seguro e tecnicamente simples, dada a sua elevada utilização, é especialmente importante ter a capacidade de reconhecer precocemente as potenciais complicações que dele poderão advir. Apresentamos, em seguida, o caso clínico de uma doente do sexo feminino com 96 anos de idade, que foi admitida no serviço de urgência por dispneia e tosse, tendo sido submetida a punção arterial radial esquerda para realização de gasometria arterial nesse contexto. Um total de três tentativas de punção foram efetuadas até colheita de sangue arterial com sucesso. Aproximadamente duas semanas após este episódio de urgência, a doente foi readmitida no serviço de urgência por aparecimento insidioso de tumefação dolorosa ao nível do punho esquerdo, em agravamento progressivo desde a data de alta hospitalar prévia. No exame físico foi documentada uma tumefação dolorosa, eritematosa e pulsátil na região volar do punho esquerdo, com subsequente avaliação por ecografia clínica à cabeceira-do-doente, documentando uma coleção com aparência cística, comunicando com o lúmen da artéria radial esquerda, enquadrável num diagnóstico provável de pseudoaneurisma radial de etiologia iatrogénica. A doente ficou internada e foi submetida a resseção cirúrgica do pseudoaneurisma radial, com subsequente reparação arterial cirúrgica. Embora as complicações severas da gasometria arterial apresentem baixa incidência, o seu diagnóstico deve ser precoce e a sua abordagem célere. Por conseguinte, o uso da ecografia clínica à cabeceira-do-doente, enquanto complemento diagnóstico prontamente disponível, poderá contribuir para minimizar o risco de complicações.