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Revista Científica da Ordem dos Médicos
A esclerose múltipla (EM) é uma doença neurodegenerativa crónica mediada por autoimunidade, caracterizada por inflamação, desmielinização e lesões axonais/neuronais no sistema nervoso central. Em Portugal, a prevalência da EM é de aproximadamente 64,4 por 100 000 indivíduos. A EM é geralmente diagnosticada em adultos jovens entre 30 e 40 anos, com maior incidência nas mulheres, embora também possa ocorrer em crianças/adolescentes e idosos. Avanços recentes no tratamento da EM incluem o desenvolvimento e aprovação de várias novas terapias modificadoras da doença (TMD), como ocrelizumab, cladribina, siponimod e outras, ampliando assim as opções para a EM surto-remissão (EMSR). Contudo, as opções para as formas progressivas de EM permanecem limitadas. Em Portugal, as estratégias de gestão da EM, orientadas pelas recomendações de 2015 da Direção-Geral da Saúde e do Infarmed, carecem de urgente atualização para incorporar evidências científicas recentes e perícia clínica. Este manuscrito tem como objetivo destacar lacunas nos atuais algoritmos de tratamento da EM em Portugal e propor melhorias alinhadas com os padrões globais, melhorando a seleção de terapias e os resultados dos pacientes no sistema de saúde português. Desenvolvido por nove especialistas portugueses em neurologia do Grupo de Estudos de Esclerose Múltipla, este documento fornece recomendações baseadas na evidência e na prática clínica, incluindo algoritmos de tratamento com TMD adaptados para vários subtipos de EM, incluindo síndromes clinicamente e radiologicamente isoladas, EMSR, EM progressiva e situações específicas no tratamento da EM, como EM pediátrica, EM de início tardio, e a gestão na gravidez e amamentação. Este documento oferece recomendações baseadas em evidências e práticas clínicas para otimizar a tomada de decisão durante a gestão da EM em centros portugueses. Os especialistas pretendem incentivar a revisão urgente das normas de tratamento da EM, incorporando os avanços mais recentes na pesquisa sobre a EM e nas diretrizes internacionais, com o intuito de reduzir o impacto socioeconómico no sistema de saúde nacional e melhorar os resultados de saúde de longo prazo dos pacientes com EM.