Avaliação da Sobrevivência e Neurodesenvolvimento de Recém-Nascidos Grandes Prematuros num Centro Terciário em Portugal
DOI:
https://doi.org/10.20344/amp.22345Palavras-chave:
Desenvolvimento Infantil, Lactente Extremamente Prematuro, Morbilidade, Mortalidade Infantil, Nascimento Prematuro, Perturbações do NeurodesenvolvimentoResumo
Introdução: A melhoria dos cuidados perinatais tem contribuído para maiores taxas de sobrevivência, condicionando um aumento da população de recém-nascidos com risco neurológico. O conhecimento sobre os outcomes por idade gestacional é fundamental para guiar a prática clínica e prestar os melhores cuidados médicos. O principal objetivo deste estudo foi avaliar o impacto da idade gestacional na mortalidade e no neurodesenvolvimento dos recém-nascidos grandes prematuros. Como objetivo secundário pretendeu-se analisar os fatores perinatais que podem influenciar o outcome combinado de sequelas moderadas a graves do neurodesenvolvimento ou morte.
Métodos: Estudo observacional retrospetivo de uma coorte de recém-nascidos com menos de 32 semanas de idade gestacional, nascidos entre 2013 e 2021 num hospital de apoio perinatal diferenciado em Portugal. O neurodesenvolvimento foi avaliado aos 24 meses de idade corrigida utilizando a Escala de Desenvolvimento Mental de Griffiths II. Considerou-se a existência de sequelas moderadas/graves na presença de pelo menos um dos seguintes critérios: quociente global de desenvolvimento < 70, paralisia cerebral, cegueira ou surdez neurossensorial profunda.
Resultados: Foram incluídos 311 recém-nascidos; ocorreram 10,9% mortes neonatais e 11,9% perdas de follow-up. A avaliação do neurodesenvolvimento foi realizada em 274, dos quais 6,2% (17/274) apresentavam sequelas moderadas/graves: 7,5% (5/67) com < 28 semanas e 5,8% (12/207) entre 28 e 31 semanas. Verificou-se quociente global de desenvolvimento < 70 em 4,7%, paralisia cerebral em 3,3%, cegueira em 0,7% e surdez neurossensorial profunda em 0,7%. A taxa de sobrevivência sem sequelas moderadas/graves superou a mortalidade a partir das 25 semanas e, a partir das 28 semanas, foi superior a 86%. Na regressão logística multivariada, verificou-se que a idade gestacional foi um fator protetor (aOR 0,81; IC 95% 0,68 - 0,98) para o desenvolvimento de sequelas moderadas/graves do neurodesenvolvimento ou morte, o sexo masculino (aOR 3,19; IC 95% 1,51 - 6,71) e a necessidade de reanimação profunda ao nascimento (aOR 8,17; IC 95% 3,16 - 20,96) foram fatores de risco independentes.
Conclusão: Este estudo comprova que a idade gestacional é um fator determinante para a sobrevivência e desenvolvimento de sequelas do neurodesenvolvimento, com maior risco abaixo das 28 semanas. O conhecimento destes dados por idade gestacional é fundamental para uma tomada de decisão baseada em dados locais, bem como para esclarecer os pais de prematuros.
Downloads
Referências
Bell EF, Hintz SR, Hansen NI, Bann CM, Wyckoff MH, DeMauro SB, et al. Mortality, In-hospital morbidity, care practices, and 2-year outcomes for extremely preterm infants in the US, 2013-2018. JAMA. 2022;327:248- 63. DOI: https://doi.org/10.1097/01.aoa.0000891644.03402.e8
Molad M, Gover A, Marai Z, Lavie-Nevo K, Kessel I, Shemer-Meiri L, et al. Neurodevelopmental outcome of very low birth weight infants in the northern district of israel: a cross-sectional study. Children. 2023;10:1320. DOI: https://doi.org/10.3390/children10081320
Pierrat V, Marchand-Martin L, Arnaud C, Kaminski M, Resche-Rigon M, Lebeaux C, et al. Neurodevelopmental outcome at 2 years for preterm children born at 22 to 34 weeks’ gestation in France in 2011: EPIPAGE-2 cohort study. BMJ. 2017;358:j3448. DOI: https://doi.org/10.1136/bmj.j3448
Resende CM, Martins D, Faria D, Taborda A. Neurodesenvolvimento em crianças nascidas pré-termo de muito baixo peso: fatores de risco ambientais e biológicos. Acta Pediatr Port. 2017;48:212-21. DOI: https://doi.org/10.21069/app.2017.10366
Serenius F, Ewald U, Farooqi A, Fellman V, Hafström M, Hellgren K, et al. Neurodevelopmental outcomes among extremely preterm infants 6.5 years after active perinatal care in Sweden. JAMA Pediatr. 2016;170:954-63. DOI: https://doi.org/10.1001/jamapediatrics.2016.1210
Arpino C, Compagnone E, Montanaro ML, Cacciatore D, De Luca A, Cerulli A, et al. Preterm birth and neurodevelopmental outcome: a review. Childs Nerv Syst. 2010;26:1139-49. DOI: https://doi.org/10.1007/s00381-010-1125-y
Gebus M, Chevallier M, Hatton LA, Jacquez L, Vilotitch A, Ego A, et al. Neurodevelopment at two years and appropriate schooling at five years in children born very preterm. Acta Paediatr. 2022;111:1729-35. DOI: https://doi.org/10.1111/apa.16421
Larroque B, Ancel PY, Marret S, Marchand L, André M, Arnaud C, et al. Neurodevelopmental disabilities and special care of 5-year-old children born before 33 weeks of gestation (the EPIPAGE study): a longitudinal cohort study. Lancet. 2008;371:813-20. DOI: https://doi.org/10.1016/S0140-6736(08)60380-3
Charkaluk ML, Truffert P, Fily A, Ancel PY, Pierrat V. Neurodevelopment of children born very preterm and free of severe disabilities: the Nord- Pas de Calais Epipage cohort study. Acta Paediatr. 2010;99:684-9. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1651-2227.2010.01695.x
Brydges CR, Landes JK, Reid CL, Campbell C, French N, Anderson M. Cognitive outcomes in children and adolescents born very preterm: a meta-analysis. Dev Med Child Neurol. 2018;60:452-68. DOI: https://doi.org/10.1111/dmcn.13685
Wickremasinghe AC, Hartman TK, Voigt RG, Katusic SK, Weaver AL, Colby CE, et al. Evaluation of the ability of neurobiological, neurodevelopmental and socio-economic variables to predict cognitive outcome in premature infants. Child Care Health Dev. 2012;38:683-9. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1365-2214.2011.01281.x
Voss W, Jungmann T, Wachtendorf M, Neubauer AP. Long-term cognitive outcomes of extremely low-birth-weight infants: the influence of the maternal educational background. Acta Paediatr. 2012;101:569- 73. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1651-2227.2012.02601.x
Schlapbach LJ, Aebischer M, Adams M, Natalucci G, Bonhoeffer J, Latzin P, et al. Impact of sepsis on neurodevelopmental outcome in a Swiss National Cohort of extremely premature infants. Pediatrics. 2011;128:e348-57. DOI: https://doi.org/10.1542/peds.2010-3338
Adams-Chapman I, Stoll BJ. Neonatal infection and long-term neurodevelopmental outcome in the preterm infant. Curr Opin Infect Dis. 2006;19:290-7. DOI: https://doi.org/10.1097/01.qco.0000224825.57976.87
Stephens BE, Vohr BR. Neurodevelopmental outcome of the premature infant. Pediatr Clin North Am. 2009;56:631-46. DOI: https://doi.org/10.1016/j.pcl.2009.03.005
Mukerji A, Shah V, Shah PS. Periventricular/intraventricular hemorrhage and neurodevelopmental outcomes: a meta-analysis. Pediatrics. 2015;136:1132-43. DOI: https://doi.org/10.1542/peds.2015-0944
Heino A, Gissler M, Hindori-Mohangoo AD, Blondel B, Klungsøyr K, Verdenik I, et al. Variations in multiple birth rates and impact on perinatal outcomes in europe. PLoS One. 2016;11:e0149252. DOI: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0149252
Lorenz JM. Neurodevelopmental outcomes of twins. Semin Perinatol. 2012;36:201-12. DOI: https://doi.org/10.1053/j.semperi.2012.02.005
Squarza C, Gardon L, Giannì ML, Frigerio A, Gangi S, Porro M, et al. Neurodevelopmental outcome and adaptive behavior in preterm multiples and singletons at 1 and 2 years of corrected age. Front Psychol. 2020;11:1653. DOI: https://doi.org/10.3389/fpsyg.2020.01653
Taborda A, Oliveira G. Neurodesenvolvimento de grandes prematuros ou recém-nascidos com muito baixo peso: comparação de gémeos monocoriónicos e bicoriónicos com recém-nascidos de gestação unifetal. Acta Med Port. 2016;29:702-10. DOI: https://doi.org/10.20344/amp.7079
Orton J, Doyle LW, Tripathi T, Boyd R, Anderson PJ, Spittle A. Early developmental intervention programmes provided post hospital discharge to prevent motor and cognitive impairment in preterm infants. Cochrane Database Syst Rev. 2024;2:Cd005495. DOI: https://doi.org/10.1002/14651858.CD005495.pub5
Fenton TR. A new growth chart for preterm babies: Babson and Benda’s chart updated with recent data and a new format. BMC Pediatr. 2003;3:13. DOI: https://doi.org/10.1186/1471-2431-3-13
Singh M, Alsaleem M, Gray CP. Neonatal sepsis. StatPearls. Treasure Island: StatPearls Publishing; 2022.
Jobe AH, Bancalari E. Bronchopulmonary dysplasia. Am J Respir Crit Care Med. 2001;163:1723-9. DOI: https://doi.org/10.1164/ajrccm.163.7.2011060
de Vries LS, Eken P, Dubowitz LM. The spectrum of leukomalacia using cranial ultrasound. Behav Brain Res. 1992;49:1-6. DOI: https://doi.org/10.1016/S0166-4328(05)80189-5
Volpe JJ. Intracranial hemorrhage: germinal matrix –intraventricular hemorrhage of the premature infant. In: Volpe JJ, editor. Neurology of the Newborn. 5th ed. Philadelphia: Elsevier; 2008. pp.517-88. DOI: https://doi.org/10.1016/B978-1-4160-3995-2.10011-1
Picciolini O, Gianni ML, Messina L, Pesenti N, Fumagalli M, Gardon L, et al. Development of a new scoring method in the neurofunctional assessment of preterm infants. Sci Rep. 2022;12:16335. DOI: https://doi.org/10.1038/s41598-022-20754-y
Surveillance of Cerebral Palsy in Europe. Surveillance of cerebral palsy in Europe: a collaboration of cerebral palsy surveys and registers.. Dev Med Child Neurol. 2000;42:816-24. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1469-8749.2000.tb00695.x
Sadowska M, Sarecka-Hujar B, Kopyta I. Cerebral palsy: current opinions on definition, epidemiology, risk factors, classification and treatment options. Neuropsychiatr Dis Treat. 2020;16:1505-18. DOI: https://doi.org/10.2147/NDT.S235165
Haumont D, Modi N, Saugstad OD, Antetere R, NguyenBa C, Turner M, et al. Evaluating preterm care across Europe using the eNewborn European Network database. Pediatr Res. 2020;88:484-95. DOI: https://doi.org/10.1038/s41390-020-0769-x
Pan Y, Wang H, Xu Y, Zhang X, Chen X, Liu X, et al. Short-time mortality and severe complications of very premature infants-a multicenter retrospective cohort study from Jiangsu Province during 2019-2021. Transl Pediatr. 2023;12:608-17. DOI: https://doi.org/10.21037/tp-23-83
Moore T, Hennessy EM, Myles J, Johnson SJ, Draper ES, Costeloe KL, et al. Neurological and developmental outcome in extremely preterm children born in England in 1995 and 2006: the EPICure studies. BMJ. 2012;345:e7961. DOI: https://doi.org/10.1136/bmj.e7961
Ferreira S, Fontes N, Rodrigues L, Gonçalves C, Lopes MM, Rodrigues M. Desenvolvimento psicomotor de grandes prematuros. Acta Pediatr Port. 2013;44:319-24.
Voller SM. Follow-Up care for high-risk preterm infants. Pediatr Ann. 2018;47:e142-6. DOI: https://doi.org/10.3928/19382359-20180325-03
Lugli L, Pugliese M, Bertoncelli N, Bedetti L, Agnini C, Guidotti I, et al. Neurodevelopmental outcome and neuroimaging of very low birth weight infants from an Italian NICU adopting the family-centered care model. Children. 2023;11:12. DOI: https://doi.org/10.3390/children11010012
Kiechl-Kohlendorfer U, Ralser E, Pupp Peglow U, Reiter G, Trawöger R. Adverse neurodevelopmental outcome in preterm infants: risk factor profiles for different gestational ages. Acta Paediatr. 2009;98:792-6. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1651-2227.2009.01219.x
Synnes A, Luu TM, Moddemann D, Church P, Lee D, Vincer M, et al. Determinants of developmental outcomes in a very preterm Canadian cohort. Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed. 2017;102:F235-4. DOI: https://doi.org/10.1136/archdischild-2016-311228
Norman M, Hallberg B, Abrahamsson T, Björklund LJ, Domellöf M, Farooqi A, et al. Association between year of birth and 1-year survival among extremely preterm infants in Sweden during 2004-2007 and 2014-2016. JAMA. 2019;321:1188-99. DOI: https://doi.org/10.1001/jama.2019.2021
Gerull R, Huber E, Rousson V, Ahrens O, Fumeaux CJ, Adams M, et al. Association of growth with neurodevelopment in extremely low gestational age infants: a population-based analysis. Eur J Pediatr. 2022;181:3673-81. DOI: https://doi.org/10.1007/s00431-022-04567-9
Marlow N, Wolke D, Bracewell MA, Samara M. Neurologic and developmental disability at six years of age after extremely preterm birth. N Engl J Med. 2005;352:9-19. DOI: https://doi.org/10.1056/NEJMoa041367
Linsell L, Malouf R, Morris J, Kurinczuk JJ, Marlow N. Prognostic factors for poor cognitive development in children born very preterm or with very low birth weight: a systematic review. JAMA Pediatr. 2015;169:1162-72. DOI: https://doi.org/10.1001/jamapediatrics.2015.2175
Cortez Ferreira M, Mafra J, Dias A, Santos Silva I, Taborda A. Impact of early-onset fetal growth restriction on the neurodevelopmental outcome of very preterm infants at 24 months: a retrospective cohort study. BMC Pediatr. 2023;23:533. DOI: https://doi.org/10.1186/s12887-023-04361-y
Fontana C, Schiavolin P, Ardemani G, Amerotti DA, Pesenti N, Bonfanti C, et al. To be born twin: effects on long-term neurodevelopment of very preterm infants-a cohort study. Front Pediatr. 2023;11:1217650. DOI: https://doi.org/10.3389/fped.2023.1217650
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Secção
Licença
Direitos de Autor (c) 2025 Acta Médica Portuguesa
Este trabalho encontra-se publicado com a Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0.
Todos os artigos publicados na AMP são de acesso aberto e cumprem os requisitos das agências de financiamento ou instituições académicas. Relativamente à utilização por terceiros a AMP rege-se pelos termos da licença Creative Commons ‘Atribuição – Uso Não-Comercial – (CC-BY-NC)’.
É da responsabilidade do autor obter permissão para reproduzir figuras, tabelas, etc., de outras publicações. Após a aceitação de um artigo, os autores serão convidados a preencher uma “Declaração de Responsabilidade Autoral e Partilha de Direitos de Autor “(http://www.actamedicaportuguesa.com/info/AMP-NormasPublicacao.pdf) e a “Declaração de Potenciais Conflitos de Interesse” (http://www.icmje.org/conflicts-of-interest) do ICMJE. Será enviado um e-mail ao autor correspondente, confirmando a receção do manuscrito.
Após a publicação, os autores ficam autorizados a disponibilizar os seus artigos em repositórios das suas instituições de origem, desde que mencionem sempre onde foram publicados e de acordo com a licença Creative Commons
