Ressonância Magnética na Esclerose Múltipla: Uma Análise da Implementação do Consenso Português

Autores

DOI:

https://doi.org/10.20344/amp.22637

Palavras-chave:

Consenso, Esclerose Múltipla/diagnóstico por imagem, Portugal, Ressonância Magnética

Resumo

Introdução: A ressonância magnética (RM) tem um papel crucial no diagnóstico e monitorização dos doentes com esclerose múltipla (EM). Este estudo pretende avaliar a implementação das Recomendações e Consensos do Grupo de Estudos de Esclerose Múltipla e da Sociedade Portuguesa de Neurorradiologia sobre Ressonância Magnética na Esclerose Múltipla na prática clínica.

Métodos: Realizou-se um estudo observacional, retrospetivo, longitudinal e multicêntrico englobando doentes com diagnóstico de EM entre 2019 e 2022 de sete hospitais portugueses. Foi obtida informação demográfica e dados relativos à requisição da RM, protocolos de aquisição e relatório. Foi realizada análise descritiva e comparativa.

Resultados: Foram incluídos 242 doentes, sendo 66% do sexo feminino. A média de idades ao diagnóstico foi 37 (DP 13) anos, predominando as formas surto-remissão (225, 93%). Foram incluídos 989 exames, correspondendo a 737 pedidos e relatórios. Um terço dos relatórios estava indisponível na data pretendida, com implicações em 83,7% dos casos, sendo a principal uma nova consulta (58,9%). Todos os critérios recomendados foram cumpridos por 28,8% das requisições de RM diagnósticas e 3,7% de seguimento. Todas as sequências obrigatórias foram executadas em 82,5% das RM crânio-encefálicas e 71,1% das RM medulares. Nenhum dos relatórios cumpriu todos os parâmetros recomendados, destacando-se a omissão mais frequente da dose de gadolínio, carga lesional e caracterização da atrofia cerebral. Após implementação das recomendações, os neurologistas reportaram com maior frequência o fenótipo da doença (p < 0,05) e os neurorradiologistas os parâmetros técnicos (p < 0,05). Os exames realizados em hospitais privados apresentaram protocolos de neuroimagem semelhantes, cumprindo mais frequentemente os tópicos sugeridos na conclusão dos relatórios (p < 0,05).

Conclusão:
Este estudo sugere uma adesão incompleta ao Consenso Português sobre RM na EM. A informação fornecida pelo clínico foi frequentemente insuficiente, o que poderá comprometer a planificação do protocolo de RM. No relatório havia regularmente informação relevante em falta relativa ao diagnóstico e seguimento dos doentes. São necessários esforços adicionais para garantir a implementação completa e otimizar os cuidados na EM.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Branco M, Alves I, Martins da Silva A, Pinheiro J, Sá MJ, Correia I, et al. The epidemiology of multiple sclerosis in the entre Douro e Vouga region of northern Portugal: a multisource population-based study. BMC neurol. 2020;20:1-7. DOI: https://doi.org/10.1186/s12883-020-01755-8

McDonald WI, Compston A, Edan G, Goodkin D, Hartung HP, Lublin FD, et al. Recommended diagnostic criteria for multiple sclerosis: guidelines from the International Panel on the Diagnosis of Multiple Sclerosis. Ann Neurol. 2001;50:121-7. DOI: https://doi.org/10.1002/ana.1032

Thompson AJ, Banwell BL, Barkhof F, Carroll WM, Coetzee T, Comi G, et al. Diagnosis of multiple sclerosis: 2017 revisions of the McDonald criteria. Lancet Neurol. 2018;17:162-73. DOI: https://doi.org/10.1016/S1474-4422(17)30470-2

Wattjes MP, Ciccarelli O, Reich DS, Banwell B, de Stefano N, Enzinger C, et al. 2021 MAGNIMS-CMSC-NAIMS consensus recommendations on the use of MRI in patients with multiple sclerosis. Lancet Neurol. 2021;20:653-70. DOI: https://doi.org/10.1016/S1474-4422(21)00095-8

Abreu P, Pedrosa R, Sá MJ, Cerqueira J, Sousa L, Da Silva AM, et al. Consensus Recommendations of the Multiple Sclerosis Study Group and Portuguese Neuroradiological Society for the Use of the Magnetic Resonance Imaging in Multiple Sclerosis in Clinical Practice: Part 1. Acta Med Port. 2018;31:281-9. DOI: https://doi.org/10.20344/amp.10503

Pereira DJ, Abreu P, Reis AM, Seixas D, Carreiro I, Cravo I, el at. Consensus recommendations of the Multiple Sclerosis Study Group and the Portuguese Neuroradiological Society for the use of magnetic resonance imaging in multiple sclerosis in clinical practice: part 2. Acta Med Port. 2020;33:66-75. DOI: https://doi.org/10.20344/amp.11532

Wallin M, Culpepper W, Campbell J, Nelson L, Langer-Gould A, Marrie R, et al. The prevalence of MS in the United States: a population-based estimate using health claims data. Neurology. 2019;92:e1029-40. DOI: https://doi.org/10.1212/WNL.0000000000007035

Sellebjerg F, Bornsen L, Ammitzboll C, Nielsen J, Vinther-Jensen T, Hjermind L, et al. Defining active progressive multiple sclerosis. Mult Scler. 2017;23:1727-35. DOI: https://doi.org/10.1177/1352458517726592

Aires A, Barros A, Machado C, Fitas D, Cação G, Pedrosa R, et al. Diagnostic delay of multiple sclerosis in a Portuguese population. Acta Med Port. 2019;32:289-94. DOI: https://doi.org/10.20344/amp.11187

Uher T, Adzima A, Srpova B, Noskova L, Maréchal B, Maceski A, et al. Diagnostic delay of multiple sclerosis: prevalence, determinants and consequences. Mult Scler J. 2023;29:1437-51. DOI: https://doi.org/10.1177/13524585231197076

National Institute for Health and Care Excellence. Multiple sclerosis in adults: management. NICE Clinical guideline [CG186]. 2014. [cited 2024 Oct 15]. Available from: https://www.nice.org.uk/guidance/cg186.

Vagberg M, Axelsson M, Birgander R, Burman J, Cananau C, Forslin Y, et al. Guidelines for the use of magnetic resonance imaging in diagnosing and monitoring the treatment of multiple sclerosis: recommendations of the Swedish Multiple Sclerosis Association and the Swedish Neuroradiological Society. Acta Neurol Scand. 2017;135:17-24. DOI: https://doi.org/10.1111/ane.12667

Castillo C, Steffens T, Sim L, Caffery L. The effect of clinical information on radiology reporting: a systematic review. J Med Radiat Sci. 2021;68:60-74. DOI: https://doi.org/10.1002/jmrs.424

Cruz A, Pereira D, Batista S. Utilização de gadolínio nas RM de controlo em doentes com esclerose múltipla: recomendações atuais. Acta Med Port. 2024;37:53-63. DOI: https://doi.org/10.20344/amp.20467

Thomassen Ø, Storesund A, Søfteland E, Brattebø G. The effects of safety checklists in medicine: a systematic review. Acta Anaesthesiol Scand. 2014;58:5-18. DOI: https://doi.org/10.1111/aas.12207

Wattjes M, Rovira À, Miller D, Yousry T, Sormani M, de Stefano N, el at. Evidence-based guidelines: MAGNIMS consensus guidelines on the use of MRI in multiple sclerosis—clinical implementation in the diagnostic process. Nat Rev Neurol. 2015;11:471-82. DOI: https://doi.org/10.1038/nrneurol.2015.106

Filippi M, Preziosa P, Banwell B, Barkhof F. Assessment of lesions on magnetic resonance imaging in multiple sclerosis: practical guidelines. Brain. 2019;142:1858-75. DOI: https://doi.org/10.1093/brain/awz144

Downloads

Publicado

2025-07-04

Como Citar

1.
Cordeiro A, Marques AJ, Castro AR, Silva C, Carapinha D, Ferreira F, Schön M, Jardim Pereira D, Gabriel JP, Ruano L, Santos M, Grunho M, Santos M, Vale J, Sá MJ, Soares dos Reis R. Ressonância Magnética na Esclerose Múltipla: Uma Análise da Implementação do Consenso Português. Acta Med Port [Internet]. 4 de Julho de 2025 [citado 7 de Dezembro de 2025];38(8):446-59. Disponível em: https://actamedicaportuguesa.com/revista/index.php/amp/article/view/22637

Edição

Secção

Original