Perspetivas dos Profissionais de Saúde sobre o Processo de Referenciação no Défice Cognitivo Ligeiro: Facilitadores, Barreiras e Soluções
DOI:
https://doi.org/10.20344/amp.23241Palavras-chave:
Atitude do Pessoal de Saúde, Cuidadores, Disfunção Cognitiva, Encaminhamento e Consulta, PortugalResumo
Introdução: A deteção e a referenciação precoces de doentes com défice cognitivo ligeiro ou demência inicial podem contribuir para melhores resultados para doentes e cuidadores. São escassos os estudos que exploram a qualidade e o contexto subjacentes à tomada de decisão de referenciação feita pelos médicos de família. Este estudo teve como objetivo explorar as perspetivas de profissionais de saúde do Norte de Portugal relativamente aos facilitadores, barreiras e soluções a nível do processo de referenciação para o serviço de Neurologia de doentes com suspeita de défice cognitivo ligeiro.
Métodos: Foram realizados dois grupos focais presenciais com 11 profissionais dos cuidados primários e secundários, do Norte de Portugal e com experiência na área das demências, escolhidos e recrutados através de um convite por correio eletrónico. A discussão centrou-se nos benefícios da referenciação, nos pontos fortes e desafios enfrentados nos diferentes níveis de cuidados, e em possíveis estratégias de melhoria. Os dados foram analisados através de análise temática indutiva e dedutiva, com recurso à triangulação para garantir o rigor da investigação.
Resultados: O estudo identificou facilitadores e barreiras ao nível dos doentes e cuidadores, dos profissionais de saúde e do sistema de saúde. Este processo é influenciado por fatores interligados, incluindo o contexto sociodemográfico e de literacia dos doentes e cuidadores, a prática clínica relativa à aplicação de critérios de referenciação e o contexto organizacional e de investigação do sistema de saúde local sobre a demência. Foram propostas soluções para ultrapassar as barreiras enfatizadas, cuja implementação está favorecida por muitos dos facilitadores descritos.
Conclusão: Concluiu-se que uma melhor compreensão das interações entre fatores sociodemográficos, clínicos e organizacionais pode contribuir para decisões de referenciação mais objetivas e eficazes, promovendo um diagnóstico atempado e melhor qualidade de vida. Os resultados deste estudo são valiosos para a otimização de processos de referenciação locais e podem ser úteis em contextos de saúde semelhantes. Recomenda-se, em futuras investigações, a inclusão das perspetivas de doentes e cuidadores para enriquecer a abordagem à estratégia nacional para a demência.
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