Utilização do Internamento Hospitalar em Portugal Continental por Crianças com Doenças Crónicas Complexas (2011 – 2015)
DOI:
https://doi.org/10.20344/amp.10437Palavras-chave:
Criança, Cuidados Paliativos, Determinação de Necessidades de Cuidados de Saúde, Hospitalização, PortugalResumo
Introdução: Fruto da mudança epidemiológica, o interesse pelas doenças crónicas complexas no sistema de saúde pediátrico tem vindo a crescer. Assim, pretendemos avaliar a utilização do internamento hospitalar do Serviço Nacional de Saúde (Portugal Continental) por doentes pediátricos (0 – 17 anos) com doenças crónicas complexas.
Material e Métodos: Estudo epidemiológico observacional longitudinal retrospetivo (base de dados de morbilidade hospitalar anonimizada). Selecionámos episódios de internamento de doentes pediátricos, entre 2011 – 2015; excluímos recém-nascidos saudáveis e radioterapia ambulatória. Análise descritiva dos episódios de internamento de doentes pediátricos com doenças crónicas complexas, caracterizados por número e categoria de doenças crónicas complexas. Foram aplicados testes não paramétricos à duração de internamento, despesa e mortalidade.
Resultados: Nos 419 927 episódios, constavam códigos de doenças crónicas complexas em 64 918 (15,5%). Estes episódios com doenças crónicas complexas representaram 29,8% dos dias de internamento, 39,4% da despesa e 87,2% dos óbitos. Custaram o dobro dos episódios sem doenças crónicas complexas (€1467 vs €745) e tiveram uma mortalidade 40 vezes superior (2,4% vs 0,06%). Do total, 46,0% foram programados (sem doenças crónicas complexas 23,2%); 64,8% ocorreram em hospitais grupo III – IV (sem doenças crónicas complexas 27,1%). Nos episódios com doenças crónicas complexas, a doença maligna foi a categoria mais frequente (23,0%); a maior demora mediana (12 dias, 6 – 41), despesa mediana (€3568,929 – 24 602) e mortalidade (13,4%) verificaram-se na categoria neonatais.
Discussão: Esta análise mostrou que, embora o número absoluto de internamentos de doentes pediátricos esteja a diminuir em Portugal Continental, à semelhança de outros países desenvolvidos, os internamentos com doenças crónicas complexas têm vindo a aumentar proporcionalmente, sendo mais prolongados, onerosos e com maior probabilidade de morte do que os episódios sem doenças crónicas complexas (tendências acentuadas quando constam duas ou mais doenças crónicas complexas).
Conclusão: As doenças crónicas complexas são relevantes na atividade e despesa do internamento hospitalar pediátrico em Portugal Continental. Este reconhecimento e a integração de cuidados paliativos pediátricos desde o diagnóstico são essenciais para adequar a utilização do hospital, desenvolvendo alternativas efetivas e sustentáveis que vão ao encontro das necessidades das crianças, famílias e profissionais.
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