Opióides na Dor Oncológica e o seu Uso em Circunstâncias Particulares: Uma Revisão Narrativa
DOI:
https://doi.org/10.20344/amp.10500Palavras-chave:
Analgésicos Opioides/uso terapêutico, Dor Oncológica/tratamento, Insuficiência Hepática, Insuficiência Renal, Perturbações da Deglutição, NeoplasiasResumo
Introdução: A dor é equiparada a quinto sinal vital e deve ser avaliada de forma sistemática em todas as consultas de um paciente com cancro. Os fármacos utilizados na prática oncológica para tratar os doentes com dor crónica moderada a severa incluem analgésicos de ação periférica e central que têm sido abordados em múltiplas diretrizes nacionais e internacionais. No entanto, na prática clínica há que equacionar outros problemas e eventuais comorbilidades, que podem levantar dúvidas no momento da prescrição.
Material e Métodos: Fez-se uma revisão da literatura, tentando refletir sobre algumas situações específicas na utilização de opióides, nomeadamente perda da via oral, insuficiência renal (hemodiálise), insuficiência hepática, interações medicamentosas e formulações de ação imediata.
Resultados: Os opiáceos naturais (morfina e codeína) e os seus derivados sintéticos e semissintéticos (hidromorfona, oxicodona, fentanilo), o agonista parcial buprenorfina e finalmente o tramadol e tapentadol foram selecionados para esta análise. Os sistemas transdérmicos estão apenas disponíveis para a buprenorfina e o fentanilo. Na insuficiência hepática, o fentanilo foi considerado seguro, mas
com exceção da codeína e do tramadol, podem todos ser usados com precaução. Na insuficiência renal, o fentanilo, a hidromorfona e o tapentadol foram considerados seguros. Deve evitar-se a morfina, e os restantes poderão ser usados com precaução. Em pacientes em hemodiálise pode usar-se buprenorfina, fentanilo, hidromorfona e tramadol (em doses até 200 mg/dia).
Discussão: O não reconhecimento do impacto das várias situações descritas ao longo deste trabalho, nomeadamente a alteração da biodisponibilidade por perda de via oral, por alteração da farmacocinética e farmacodinâmica dos vários fármacos, quer no contexto da insuficiência de órgão responsável pelo metabolismo ou excreção, quer no contexto das interações farmacológicas, condiciona um
norme risco de subtratamento da dor e consequente impacto em termos de qualidade de vida.
Conclusão: A prescrição de opióides é segura e efetiva, mesmo em situações de comorbilidades moderadas a graves como insuficiência renal e hepática e em doentes sem via oral disponível. Neste caso, como quando considerámos as interações farmacológicas, o plano terapêutico deve ser individualizado e o paciente deve ser avaliado regularmente. A seleção inadequada e/ou dose mal ajustada de um fármaco, o não reconhecimento do impacto dos efeitos adversos, frequentemente justificam o mau controlo da dor e a toxicidade excessiva.
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