Vinte Anos de um Protocolo de Teste Pré-Sintomático para Doenças Neurológicas de Início Tardio em Portugal
DOI:
https://doi.org/10.20344/amp.10526Palavras-chave:
Aconselhamento Genético, Doenças Neurodegenerativas, Portugal, Qualidade de Cuidados de Saúde, Testes GenéticosResumo
Introdução: Em 1995 foi iniciado em Portugal um protocolo nacional para o aconselhamento genético e teste pré-sintomático de doenças neurológicas de início tardio. Inicialmente, foi disponibilizado para indivíduos adultos em risco para a doença de Machado-Joseph e posteriormente estendido a outras ataxias hereditárias, doença de Huntington e polineuropatia amiloidótica familiar ATTR Val30Met. O objetivo deste estudo é descrever o perfil dos consultandos envolvidos no teste pré-sintomático desde 1996, e refletir no protocolo de sessões multidisciplinares.
Material e Métodos: Realizámos um estudo retrospetivo com recolha de dados dos processos clínicos dos utentes que solicitaram teste pré-sintomático ao longo dos primeiros 20 anos do Centro de Genética Preditiva e Preventiva (1996 - 2015), localizado no Porto, Portugal.
Resultados: Analisámos um total de 1446 processos clínicos; a principal motivação para a realização do teste pré-sintomático foi o alívio da incerteza (41,7%). A taxa de abandono do protocolo antes da comunicação dos resultados do pré-sintomático (16% dos casos) foi mais baixa do que em outras experiências internacionais; 45% dos consultandos abandonaram o protocolo depois de saberem o resultado do teste pré-sintomático (73,5% dos quais eram não-portadores). 29,6% de consultandos portadores continuaram envolvidos no protocolo um ano após saberem o resultado do teste pré-sintomático. Os consultandos encaminhados para o protocolo através de outros profissionais de saúde revelaram maior adesão ao protocolo.
Discussão: O perfil sociodemográfico dos consultandos no Centro de Genética Preditiva e Preventiva é similar ao reportado noutras experiências internacionais. Os consultandos em risco para polineuropatia amiloidótica familiar ATTR Val30Met representaram o maior grupo nos nossos dados, sendo provável que as opções terapêuticas disponíveis para esta doença tenham influenciado este resultado. A adesão ao teste pré-sintomático poderá alterar-se no futuro quando terapias eficazes estiverem disponíveis (ou as pessoas as
percepcionem como estando iminentes).
Conclusão: Este trabalho constitui a descrição mais completa até ao momento publicada acerca da realização de teste pré-sintomático em Portugal. O desenvolvimento de abordagens com vista à melhoria da experiência dos consultandos com os testes pré-sintomáticos e ao seu envolvimento nos serviços de genética é um desafio atual, assim como a melhor articulação dos mesmos com os cuidados de saúde primários.
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