Índices Morfológicos na Nefrite Lúpica: Orientação Prognóstica? Um Estudo Retrospetivo
DOI:
https://doi.org/10.20344/amp.11598Palavras-chave:
Biópsia, Lupus Eritematoso Sistémico/complicações, Nefrite Lúpica, Prognóstico, Rim/patologia, Valor Preditivo dos TestesResumo
Introdução: A nefrite lúpica é uma complicação grave do lúpus eritematoso sistémica. Atualmente, a terapêutica dirigida é ditada pelos achados histológicos da biópsia renal, através da classificação da International Society of Nephrology / Renal Pathology Society. Os índices histomorfológicos descritos por Austin e Hill não são rotineiramente realizados. Neste estudo retrospetivo unicêntrico, procurámos analisar a aplicabilidade e relevância dos índices morfológicos na predição da resposta à terapêutica e do prognóstico em doentes com nefrite lúpica.
Material e Métodos: Foram incluídos doentes cuja biópsia renal, realizada entre 2010 e 2016, documentava nefrite lúpica. Analisámos os dados demográficos, comorbilidades, apresentação clínica e avaliação laboratorial destes doentes correspondente à altura da biópsia renal. Avaliámos os seguintes outcomes: remissão clínica, função renal e proteinúria no final do seguimento. A avaliação histológica foi realizada segundo a classificação da International Society of Nephrology / Renal Pathology Society e aplicando os índices morfológicos descritos por Austin (Actividade e Cronicidade) e Hill. A análise estatística univariada e multivariada foi realizada com software STATA.
Resultados: Foram revistos 46 casos de nefrite lúpica, com um follow-up mediano de 31,9 (13,2 – 45,6) meses. A partir dos achados histológicos, 35 doentes foram submetidos a imunossupressão. Observámos que os doentes com nefrite lúpica Classe IV tinham, à apresentação, taxa de filtrado glomerular estimada mais reduzida (67,3 vs 94,6 mL/min; p = 0,02), proteinúria mais elevada (4,26 vs 2,37 g/24 horas; p = 0,02) e consumo de C3 mais elevado de modo não-significativo (58,9 vs 77,4 mg/dL; p = 0,06). Não se verificou correlação entre a classificação ISN/RPS e os desfechos no final do follow-up. Por outro lado, tanto o índice de Hill quanto o score de cronicidade de Austin correlacionaram-se com a função renal e a proteinúria no final do seguimento. Adicionalmente, o score de atividade de Austin correlacionou-se com os achados imunológicos à apresentação (C3, C4 e anti-dsDNA).
Discussão: Uma vez que a actividade clínica tem fraca correlação com a actividade histológica, os achados histológicos são fundamentais durante a avaliação na suspeita de nefrite lúpica. A mais recente revisão da International Society of Nephrology / Renal Pathology Society vai ao encontro das linhas de orientação da European League Against Rheumatism, encorajando a aplicação de índices histomorfológicos na avaliação da nefrite lúpica. Os dados da nossa população, onde verificámos uma correlação entre o prognóstico renal e os índices histomorfológicos descritos por Austin e Hill, apoiam essa sugestão.
Conclusão: Os índices histomorfológicos na nefrite lúpica são de fácil aplicação, conseguem prever os outcomes clínicos e podem representar uma ferramenta adicional na avaliação dos doentes com nefrite lúpica.
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