Vírus Toscana: Dez Anos de Diagnóstico em Portugal

Autores

  • Fátima Amaro Centro de Estudos de Vectores e Doenças Infecciosas Dr. Francisco Cambournac. Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. Águas de Moura. https://orcid.org/0000-0002-5445-4142
  • Líbia Zé-Zé Centro de Estudos de Vectores e Doenças Infecciosas Dr. Francisco Cambournac. Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. Águas de Moura.
  • Maria Teresa Luz Centro de Estudos de Vectores e Doenças Infecciosas Dr. Francisco Cambournac. Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. Águas de Moura.
  • Maria João Alves Centro de Estudos de Vectores e Doenças Infecciosas Dr. Francisco Cambournac. Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. Águas de Moura.

DOI:

https://doi.org/10.20344/amp.13308

Palavras-chave:

Phlebovirus, Portugal

Resumo

Introdução: O vírus Toscana (TOSV) é um vírus emergente, transmitido por flebótomos, que pertence ao género Phlebovirus. Apesar de a maioria das infeções causadas por este vírus serem assintomáticas ou apresentarem uma sintomatologia ligeira, o TOSV pode causar síndrome febril ou casos esporádicos de doença neurológica tal como meningite ou meningoencefalite. Este agente patogénico encontra-se distribuído por toda a bacia do Mediterrâneo, de acordo com as áreas de distribuição do seu vetor reconhecido, Phlebotomus perniciosus. Depois de Itália, Portugal foi o segundo país considerado endémico para este vírus após a publicação, em 1985, do primeiro caso de infeção adquirida no nosso território. Apesar do pouco conhecimento acerca da circulação deste vírus, no nosso país, o diagnóstico laboratorial de TOSV está disponível em Portugal, desde 2007, no Centro de Estudos de Vetores e Doenças Infeciosas do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (CEVDI/INSA). O objetivo deste trabalho é dar a conhecer os resultados do diagnóstico de TOSV em Portugal, de 2009 a 2018, no CEVDI/INSA.
Material e Métodos: O diagnóstico de TOSV no CEVDI/INSA está inserido nos painéis ‘arbovírus’ e ‘vírus neurotrópicos transmitidos por vetores’ ou pode ser realizado, quando especificado, só para TOSV. O diagnóstico direto é realizado em amostras de líquido cefalorraquidiano e encontra-se disponível no CEVDI/INSA por RT-PCR em tempo real, específico para TOSV, seguido de RT-PCR convencional, no caso de a amostra ser positiva na primeira técnica, para confirmação por sequenciação. Para o diagnóstico indireto, realizado em amostras de soro, é utilizado uma técnica de imunofluorescência in-house, para a deteção de anticorpos IgM e IgG anti-TOSV. Também está disponível uma imunofluorescência comercial, com um mosaico de quatro flebovírus, onde para além do TOSV, são testados anticorpos contra três vírus da febre por flebótomos, nomeadamente Nápoles, Sicília e Chipre. Neste trabalho foram considerados os pedidos de diagnóstico ao CEVDI/INSA para arbovírus, vírus neurotrópicos e/ou TOSV, de janeiro de 2009 a dezembro de 2018.
Resultados: No período em estudo, foram enviadas ao CEVDI/INSA, amostras de 608 indivíduos com pedido de diagnóstico de TOSV. Foram confirmadas cinco infeções agudas por TOSV e uma infeção aguda por vírus Sicília em amostras de soro. Três outros doentes apresentaram prova serológica de contacto prévio com o TOSV. Dois dos doentes com infeção aguda apresentaram síndrome febril, mas quatro evidenciaram quadros neurológicos: meningite (n = 2), meningoencefalite (n = 1) e alterações graves do estado de consciência (n = 1). Estas infeções foram, muito provavelmente, adquiridas nos distritos de Faro (3), Lisboa (2) e Setúbal (1).
Discussão: Em Portugal, o número de pedidos de diagnóstico laboratorial para TOSV é baixo quando comparado com o número de pedidos para outros vírus transmitidos por vetores. O distrito de Faro foi o que apresentou o número mais alto de pedidos de diagnóstico específicos para TOSV, o que parece demonstrar que existe um maior reconhecimento pelos clínicos daquela região. Síndrome febril e doença neurológica foram as manifestações clínicas nos casos agudos. Neste estudo, além do distrito de Faro, foram também detetadas infeções recentes nos distritos de Lisboa e Setúbal. É provável que o TOSV se encontre distribuído por todo o território continental, uma vez que o seu principal vetor está presente de norte a sul. Em 2017, o vírus Sicília foi associado, pela primeira vez, a doença humana no nosso país, alertando para a circulação deste flebovírus.
Conclusão: Apesar do número de casos identificados em Portugal ser baixo, o TOSV circula e causa doença no nosso país. Este e outros flebovírus não deveriam ser negligenciados no diagnóstico diferencial de síndrome febril e de meningites e meningoencefalites virais, em especial nos meses mais quentes, quando é maior a atividade dos seus vetores.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografias Autor

Fátima Amaro, Centro de Estudos de Vectores e Doenças Infecciosas Dr. Francisco Cambournac. Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. Águas de Moura.

Invited researcher at the Centre for Vectors and Infectious Diseases Research/ National Institute of Health

Líbia Zé-Zé, Centro de Estudos de Vectores e Doenças Infecciosas Dr. Francisco Cambournac. Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. Águas de Moura.

Researcher at the Centre for Vectors and Infectious Diseases Research/ National Institute of Health

Maria Teresa Luz, Centro de Estudos de Vectores e Doenças Infecciosas Dr. Francisco Cambournac. Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. Águas de Moura.

Laboratory technician at the Centre for Vectors and Infectious Diseases Research/ National Institute of Health

Maria João Alves, Centro de Estudos de Vectores e Doenças Infecciosas Dr. Francisco Cambournac. Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. Águas de Moura.

Researcher at the Centre for Vectors and Infectious Diseases Research/ National Institute of Health

Downloads

Publicado

2021-10-01

Como Citar

1.
Amaro F, Zé-Zé L, Luz MT, Alves MJ. Vírus Toscana: Dez Anos de Diagnóstico em Portugal. Acta Med Port [Internet]. 1 de Outubro de 2021 [citado 22 de Novembro de 2024];34(10):677-81. Disponível em: https://actamedicaportuguesa.com/revista/index.php/amp/article/view/13308

Edição

Secção

Original