Satisfação dos Familiares em Cuidados Intensivos durante a Pandemia de COVID-19 Utilizando o Questionário FS-ICU24
DOI:
https://doi.org/10.20344/amp.17128Palavras-chave:
Comunicação, COVID-19, Inquéritos e Questionários, Portugal, Qualidade dos Cuidados de Saúde, Satisfação do Doente, Unidades de Cuidados IntensivosResumo
Introdução: A pandemia de COVID-19 impôs alterações no padrão de comunicação entre doentes, familiares e profissionais. Os objectivos deste estudo foram avaliar a satisfação dos familiares com os cuidados prestados pelas unidades de cuidados intensivos e as estratégias comunicacionais durante a pandemia de COVID-19. Os objectivos secundários incluíram a identificação de áreas de melhoria e a avaliação do impacto do diagnóstico de COVID-19 e das visitas presenciais na satisfação global.
Material e Métodos: Estudo prospetivo, observacional e unicêntrico que avaliou os familiares de doentes em unidades de cuidados intensivos admitidos de março a setembro de 2020. Neste período, ocorreram alterações na política de visitas, que alternaram entre restrições totais e permissão de visitas restritas; estas modificações impuseram alterações na política de comunicação e no contacto dos doentes com os seus familiares. Aos três meses após alta da unidade de cuidados intensivos, o familiar de referência foi contactado para preencher um questionário que avaliou a sua satisfação através de uma escala de Likert.
Resultados: Cento e sessenta e oito familiares foram contactados (taxa de resposta de 57,7%). A maioria dos participantes estava globalmente satisfeita com os cuidados prestados e a generalidade das questões apresentava uma taxa de satisfação superior a 80%. Uma associação com significado estatístico foi encontrada entre a consistência da informação clínica e a possibilidade de visitas presenciais (p = 0,046). O odds ratio de satisfação foi 0,2 vezes menor em familiares que puderam visitar o doente durante a pandemia COVID-19 [OR = 0,22 (95% CI: 0,054 – 0,896)] em comparação com familiares cuja visita presencial não foi possível. O diagnóstico de COVID-19 não apresentou impacto na satisfação dos familiares.
Conclusão: Este é um dos primeiros estudos a avaliar a satisfação de familiares de doentes internados em unidades de cuidados intensivos durante a pandemia de COVID-19 e é, tanto quanto é do nosso conhecimento, o primeiro realizado numa população portuguesa. A satisfação global é semelhante a estudos prévios publicados. O menor grau de satisfação com a consistência da informação em familiares que fizeram visitas aos doentes pode estar relacionado com heterogeneidade no estilo de comunicação entre os médicos seniores da unidade de cuidados intensivos. O diagnóstico de COVID-19 não esteve associado a uma redução na satisfação global dos familiares.
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