Como a Anestesiologia Ajudou a Combater a Primeira Vaga da Pandemia de COVID-19 em Portugal
DOI:
https://doi.org/10.20344/amp.18453Palavras-chave:
Administração de Recursos Humanos, Anestesiologia, COVID-19, Cuidados Intensivos, Planeamento em SaúdeResumo
Introdução: A disseminação da pandemia por COVID-19 na Europa, designadamente em Portugal, exigiu uma resposta clínica e organizativa por parte do Serviço Nacional de Saúde português. Com o imprevisível impacto da COVID-19 nos doentes infectados, foi prioritário redefinir a logística hospitalar, reduzir a prestação de cuidados electivos não prioritários, e estender a capacidade hospitalar ao tratamento do doente crítico, mobilizando uma parte significativa dos recursos humanos. Utilizou-se um inquérito nacional que permitisse monitorizar a contribuição que os anestesiologistas pertencentes aos 53 hospitais do Serviço Nacional de Saúde tiveram no combate à COVID-19 durante a primeira vaga da pandemia.
Material e Métodos: Estudo observacional transversal de tipo prospectivo, baseado num inquérito semanal enviado aos directores dos Serviços de Anestesiologia de todos os hospitais do Serviço Nacional de Saúde, entre 13 de abril e 21 de junho de 2020. Foi solicitada informação relativa aos recursos humanos, logística hospitalar, atividade assistencial, programa de formação pós-graduado, assim como plano de contingência face ao crescimento da pandemia.
Resultados: O plano de contingência hospitalar nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde previu um total de 1524 camas de cuidados intensivos de nível III, o que corresponde a um crescimento de 151% das 607 camas existentes em janeiro de 2020. Esta reconfiguração dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde só foi possível devido à suspensão parcial ou total da atividade eletiva não prioritária que afectou mais de 90% das instituições hospitalares nos primeiros meses da pandemia (março e abril), e à mobilização dos anestesiologistas das suas atividades eletivas para o tratamento do doente crítico. Nos piores momentos, esta mobilização envolveu 209 especialistas e 170 internos de especialidade (22,9% do total destes profissionais nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde). Por outro lado, registou-se uma interrupção quase total do programa de formação pós-graduada em mais de 70,4% dos hospitais com esta idoneidade formativa, de março a abril de 2020.
Conclusão: Durante a primeira vaga da pandemia houve uma rápida reorganização do Serviço Nacional de Saúde que poderá ter contribuído para a baixa taxa de mortalidade em Portugal. Os autores acreditam que para esse resultado poderá ainda ter contribuído a ajuda dada pelos serviços de Anestesiologia do Serviço Nacional de Saúde.
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