Consanguinidade Parental e Risco de Surdez Infantil: Estudo de Coorte Retrospetivo

Autores

  • Bárbara Leal Serviço de Pediatria. Hospital Infante D. Pedro. Centro Hospitalar do Baixo Vouga. Aveiro.
  • Ana Cristina Lopes Serviço de Otorrinolaringologia. Hospital Infante D. Pedro. Centro Hospitalar do Baixo Vouga. Aveiro.
  • Daniela Peixoto Serviço de Pediatria. Hospital Infante D. Pedro. Centro Hospitalar do Baixo Vouga. Aveiro.
  • Laura Correia Serviço de Pediatria. Hospital Infante D. Pedro. Centro Hospitalar do Baixo Vouga. Aveiro.
  • Maria Miguel Almiro Serviço de Pediatria. Hospital Infante D. Pedro. Centro Hospitalar do Baixo Vouga. Aveiro.
  • João Vilar Serviço de Informática. Hospital Infante D. Pedro. Centro Hospitalar do Baixo Vouga. Aveiro.
  • Maria Luísa Azevedo Serviço de Otorrinolaringologia. Hospital Infante D. Pedro. Centro Hospitalar do Baixo Vouga. Aveiro.
  • Maria Adelaide Bicho Serviço de Pediatria. Hospital Infante D. Pedro. Centro Hospitalar do Baixo Vouga. Aveiro.

DOI:

https://doi.org/10.20344/amp.18607

Palavras-chave:

Consanguinidade, Pais, Perda Auditiva/etiologia, Perda Auditiva Neurossensoria/etiologia, Rastreio Neonatal, Recém-Nascido, Surdez/congénita

Resumo

Introdução: A etiologia genética é responsável por metade dos casos de surdez, a maioria fruto de alterações genéticas não-sindrómicas decorrentes de herança autossómica recessiva. A consanguinidade parental constitui um possível indicador a considerar para o diagnóstico destes casos, pelo que este estudo pretende avaliá-la como fator de risco para a surdez infantil.
Material e Métodos: Estudo de coorte retrospetivo realizado de 2014 a 2018 num hospital distrital. Incluímos todos os nados-vivos nascidos neste período, sendo excluídos aqueles com outros fatores de risco para surdez infantil (que não a consanguinidade parental) e aqueles sem rastreio auditivo. Formámos dois grupos de estudo: recém-nascidos com consanguinidade parental e recém-nascidos sem fatores de risco. Todos os participantes realizaram rastreio auditivo, sendo o seu resultado o outcome primário do estudo. Aqueles com resultado anormal ou com consanguinidade parental efetuaram ainda avaliação audiológica diagnóstica.
Resultados: Entre os 8513 nados-vivos, estudámos 96 recém-nascidos com consanguinidade parental em primeiro grau e 96 recém-nascidos sem fatores de risco. Verificámos uma diferença estatisticamente significativa (p = 0,007) entre os grupos relativamente aos resultados do rastreio auditivo, tendo-se detetado uma taxa de refer de 24% no grupo com consanguinidade parental e de 9,4% naquele sem fatores de risco. Diagnosticámos um caso de surdez sensorioneural e outro de surdez mista no primeiro grupo e zero destes casos no segundo.
Conclusão: A consanguinidade parental associou-se a um risco significativamente superior de resultado refer no rastreio auditivo de recém-nascidos com consanguinidade parental e sugere a necessidade de considerar este critério como um fator de risco para surdez infantil.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Flint PW, Francis HW, Haughey BH, Lesperance MM, Lund VJ, Robbins HT, et al. Cummings otolaryngology head and neck surgery. 7th ed. Amsterdam:Elsevier; 2010.

Sajjad M, Khattak AA, Bunn JG, Mackenzie I. Causes of childhood deafness in Pukhtoonkhwa province of Pakistan and the role of consanguinity. J Laryngol Otol. 2008;122:1057–63. DOI: https://doi.org/10.1017/S0022215108002235

Almazroua AM, Alsughayer L, Ababtain R, Al-shawi Y, Hagr AA. The association between consanguineous marriage and offspring with congenital hearing loss. Ann Saudi Med. 2020;40:456-61. DOI: https://doi.org/10.5144/0256-4947.2020.456

Benera A, EIHakeemb AA, Abdulhadib K. Is there any association between consanguinity and hearing loss. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2005;69:327-33. DOI: https://doi.org/10.1016/j.ijporl.2004.10.004

Zakzouk S. Consanguinity and hearing impairment in developing countries: a custom to be discouraged. J Laryngol Otol. 2002;116:811–6. DOI: https://doi.org/10.1258/00222150260293628

Mendes M, Magano O, Candeias P. Estudo Nacional sobre as Comunidades Ciganas. Lisboa: Alto Comissariado para as Migrações; 2014.

Grupo de Rastreio e Intervenção da Surdez Infantil. Recomendações para o Rastreio Auditivo Neonatal Universal (RANU). Acta Pediatr Port. 2007;38:209-14.

The Joint Committee on Infant Hearing. Year 2019 position statement: principles and guidelines for early hearing detection and intervention programs. J Early Hear Detect Interv. 2019;4:1–44.

Direção-Geral da Saúde. Rastreio e tratamento da surdez com implantes cocleares em idade pediátrica. Lisboa: DGS; 2017.

Kavitha Y, Sabarigirish K, Joish UK, Saxena S, Dutta A. A study of effect of consanguinity on cochlear morphology in patients with congenital bilateral profound sensorineural hearing loss. Indian J Otolaryngol Head Neck Surg. 2017;69:483-7. DOI: https://doi.org/10.1007/s12070-017-1230-2

Khabori MA, Patton MA. Consanguinity and deafness in Omani children. Int J Audiol. 2008;47:30-3. DOI: https://doi.org/10.1080/14992020701703539

Bajaj Y, Sirimanna T, Albert DM, Qadir P, Jenkins L, Cortina-Borja M, et al. Causes of deafness in British Bangladeshi children: a prevalence twice that of the UK population cannot be accounted for by consanguinity alone. Clin Otolaryngol. 2009;34:113–9. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1749-4486.2009.01888.x

Vos B, Senterre C, Lagasse R, SurdiScreen Group, Levêque A. Newborn hearing screening programme in Belgium: a consensus recommendation on risk factors. BMC Pediatr. 2015;15:160. DOI: https://doi.org/10.1186/s12887-015-0479-4

Dudda R, Muniyappa HP, Puttaraju S, Lakshmi MS. A qualitative study on knowledge and attitude towards risk factors, early identification and intervention of infant hearing loss among puerperal mothers - a short survey. J Clin Diagn Res. 2017;11:MC01-5. DOI: https://doi.org/10.7860/JCDR/2017/25837.10238

Smolkin T, Mick O, Dabbah M, Blazer S, Grakovsky G, Gabay N, et al. Birth by cesarean delivery and failure on first otoacoustic emissions hearing test. Pediatrics. 2012;130:e95-e100. DOI: https://doi.org/10.1542/peds.2011-3179

Güven SG. The effect of mode of delivery on newborn hearing screening results. Turk Arch Otorhinolaryngol. 2019;57:19-23. DOI: https://doi.org/10.5152/tao.2019.3940

Ajallouyan M, Radfar S, Nouhi S, Tavallaie SA, Amirsalari S, Yousefi J, et al. Consanguinity among parents of Iranian deaf children. Iran Red Crescent Med J. 2016;18:e22038. DOI: https://doi.org/10.5812/ircmj.22038

Downloads

Publicado

2023-02-17

Como Citar

1.
Leal B, Lopes AC, Peixoto D, Correia L, Almiro MM, Vilar J, Azevedo ML, Bicho MA. Consanguinidade Parental e Risco de Surdez Infantil: Estudo de Coorte Retrospetivo. Acta Med Port [Internet]. 17 de Fevereiro de 2023 [citado 20 de Maio de 2024];36(5):336-42. Disponível em: https://actamedicaportuguesa.com/revista/index.php/amp/article/view/18607

Edição

Secção

Original