Consanguinidade Parental e Risco de Surdez Infantil: Estudo de Coorte Retrospetivo
DOI:
https://doi.org/10.20344/amp.18607Palavras-chave:
Consanguinidade, Pais, Perda Auditiva/etiologia, Perda Auditiva Neurossensoria/etiologia, Rastreio Neonatal, Recém-Nascido, Surdez/congénitaResumo
Introdução: A etiologia genética é responsável por metade dos casos de surdez, a maioria fruto de alterações genéticas não-sindrómicas decorrentes de herança autossómica recessiva. A consanguinidade parental constitui um possível indicador a considerar para o diagnóstico destes casos, pelo que este estudo pretende avaliá-la como fator de risco para a surdez infantil.
Material e Métodos: Estudo de coorte retrospetivo realizado de 2014 a 2018 num hospital distrital. Incluímos todos os nados-vivos nascidos neste período, sendo excluídos aqueles com outros fatores de risco para surdez infantil (que não a consanguinidade parental) e aqueles sem rastreio auditivo. Formámos dois grupos de estudo: recém-nascidos com consanguinidade parental e recém-nascidos sem fatores de risco. Todos os participantes realizaram rastreio auditivo, sendo o seu resultado o outcome primário do estudo. Aqueles com resultado anormal ou com consanguinidade parental efetuaram ainda avaliação audiológica diagnóstica.
Resultados: Entre os 8513 nados-vivos, estudámos 96 recém-nascidos com consanguinidade parental em primeiro grau e 96 recém-nascidos sem fatores de risco. Verificámos uma diferença estatisticamente significativa (p = 0,007) entre os grupos relativamente aos resultados do rastreio auditivo, tendo-se detetado uma taxa de refer de 24% no grupo com consanguinidade parental e de 9,4% naquele sem fatores de risco. Diagnosticámos um caso de surdez sensorioneural e outro de surdez mista no primeiro grupo e zero destes casos no segundo.
Conclusão: A consanguinidade parental associou-se a um risco significativamente superior de resultado refer no rastreio auditivo de recém-nascidos com consanguinidade parental e sugere a necessidade de considerar este critério como um fator de risco para surdez infantil.
Downloads
Referências
Flint PW, Francis HW, Haughey BH, Lesperance MM, Lund VJ, Robbins HT, et al. Cummings otolaryngology head and neck surgery. 7th ed. Amsterdam:Elsevier; 2010.
Sajjad M, Khattak AA, Bunn JG, Mackenzie I. Causes of childhood deafness in Pukhtoonkhwa province of Pakistan and the role of consanguinity. J Laryngol Otol. 2008;122:1057–63. DOI: https://doi.org/10.1017/S0022215108002235
Almazroua AM, Alsughayer L, Ababtain R, Al-shawi Y, Hagr AA. The association between consanguineous marriage and offspring with congenital hearing loss. Ann Saudi Med. 2020;40:456-61. DOI: https://doi.org/10.5144/0256-4947.2020.456
Benera A, EIHakeemb AA, Abdulhadib K. Is there any association between consanguinity and hearing loss. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2005;69:327-33. DOI: https://doi.org/10.1016/j.ijporl.2004.10.004
Zakzouk S. Consanguinity and hearing impairment in developing countries: a custom to be discouraged. J Laryngol Otol. 2002;116:811–6. DOI: https://doi.org/10.1258/00222150260293628
Mendes M, Magano O, Candeias P. Estudo Nacional sobre as Comunidades Ciganas. Lisboa: Alto Comissariado para as Migrações; 2014.
Grupo de Rastreio e Intervenção da Surdez Infantil. Recomendações para o Rastreio Auditivo Neonatal Universal (RANU). Acta Pediatr Port. 2007;38:209-14.
The Joint Committee on Infant Hearing. Year 2019 position statement: principles and guidelines for early hearing detection and intervention programs. J Early Hear Detect Interv. 2019;4:1–44.
Direção-Geral da Saúde. Rastreio e tratamento da surdez com implantes cocleares em idade pediátrica. Lisboa: DGS; 2017.
Kavitha Y, Sabarigirish K, Joish UK, Saxena S, Dutta A. A study of effect of consanguinity on cochlear morphology in patients with congenital bilateral profound sensorineural hearing loss. Indian J Otolaryngol Head Neck Surg. 2017;69:483-7. DOI: https://doi.org/10.1007/s12070-017-1230-2
Khabori MA, Patton MA. Consanguinity and deafness in Omani children. Int J Audiol. 2008;47:30-3. DOI: https://doi.org/10.1080/14992020701703539
Bajaj Y, Sirimanna T, Albert DM, Qadir P, Jenkins L, Cortina-Borja M, et al. Causes of deafness in British Bangladeshi children: a prevalence twice that of the UK population cannot be accounted for by consanguinity alone. Clin Otolaryngol. 2009;34:113–9. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1749-4486.2009.01888.x
Vos B, Senterre C, Lagasse R, SurdiScreen Group, Levêque A. Newborn hearing screening programme in Belgium: a consensus recommendation on risk factors. BMC Pediatr. 2015;15:160. DOI: https://doi.org/10.1186/s12887-015-0479-4
Dudda R, Muniyappa HP, Puttaraju S, Lakshmi MS. A qualitative study on knowledge and attitude towards risk factors, early identification and intervention of infant hearing loss among puerperal mothers - a short survey. J Clin Diagn Res. 2017;11:MC01-5. DOI: https://doi.org/10.7860/JCDR/2017/25837.10238
Smolkin T, Mick O, Dabbah M, Blazer S, Grakovsky G, Gabay N, et al. Birth by cesarean delivery and failure on first otoacoustic emissions hearing test. Pediatrics. 2012;130:e95-e100. DOI: https://doi.org/10.1542/peds.2011-3179
Güven SG. The effect of mode of delivery on newborn hearing screening results. Turk Arch Otorhinolaryngol. 2019;57:19-23. DOI: https://doi.org/10.5152/tao.2019.3940
Ajallouyan M, Radfar S, Nouhi S, Tavallaie SA, Amirsalari S, Yousefi J, et al. Consanguinity among parents of Iranian deaf children. Iran Red Crescent Med J. 2016;18:e22038. DOI: https://doi.org/10.5812/ircmj.22038
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Secção
Licença
Direitos de Autor (c) 2023 Acta Médica Portuguesa
Este trabalho encontra-se publicado com a Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0.
Todos os artigos publicados na AMP são de acesso aberto e cumprem os requisitos das agências de financiamento ou instituições académicas. Relativamente à utilização por terceiros a AMP rege-se pelos termos da licença Creative Commons ‘Atribuição – Uso Não-Comercial – (CC-BY-NC)’.
É da responsabilidade do autor obter permissão para reproduzir figuras, tabelas, etc., de outras publicações. Após a aceitação de um artigo, os autores serão convidados a preencher uma “Declaração de Responsabilidade Autoral e Partilha de Direitos de Autor “(http://www.actamedicaportuguesa.com/info/AMP-NormasPublicacao.pdf) e a “Declaração de Potenciais Conflitos de Interesse” (http://www.icmje.org/conflicts-of-interest) do ICMJE. Será enviado um e-mail ao autor correspondente, confirmando a receção do manuscrito.
Após a publicação, os autores ficam autorizados a disponibilizar os seus artigos em repositórios das suas instituições de origem, desde que mencionem sempre onde foram publicados e de acordo com a licença Creative Commons