Prescrição de Benzodiazepinas e outros Sedativos na Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo de 2013 a 2020: Um Estudo Retrospetivo
DOI:
https://doi.org/10.20344/amp.18680Palavras-chave:
Benzodiazepinas, Hipnóticos e Sedativos, Padrões de Prática Médica/tendências, Portugal, Uso de Medicamentos/tendências, Uso Off-LabelResumo
Introdução: Portugal é o país da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico com maior consumo de ansiolíticos, hipnóticos e sedativos, sendo uma proporção significativa constituída por benzodiazepinas ou análogos, associados a efeitos de tolerância e dependência. Por este motivo, em alternativa às benzodiazepinas para tratamento da insónia, algumas publicações identificam outros fármacos com efeito hipnótico, como antidepressivos, anti-histamínicos, antipsicóticos ou anticonvulsivantes. Assim, torna-se necessário compreender a evolução do consumo destes medicamentos, pelo que foi objetivo deste estudo avaliar a evolução da dispensa de benzodiazepinas, outros fármacos ansiolíticos, hipnóticos ou sedativos não benzodiazepínicos, fármacos com potencial uso off-label na insónia e os resultados de indicadores dos Cuidados de Saúde Primários neste âmbito na região de Lisboa e Vale do Tejo.
Material e Métodos: Realizou-se um estudo em base de dados, censitário e retrospetivo, no período de 2013 até 2020, avaliando-se a evolução das variáveis total de doses diárias definidas, doses diárias definidas por 1000 habitantes por dia (DHD) e dos indicadores relevantes. Os dados foram extraídos da plataforma SIARS da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo.
Resultados: Verificou-se uma diminuição da dispensa de benzodiazepinas (de 57,44 para 51,77 DHD) mas o aumento da dispensa de não benzodiazepinas e de fármacos com potencial uso off-label (de 6,56 para 8,56 DHD e de 14,70 para 25,92 DHD, respetivamente). O zolpidem foi o mais dispensado entre os fármacos não benzodiazepínicos, acompanhando a tendência crescente de dispensa (de 4,86 para 6,96 DHD). Do conjunto de fármacos com potencial para uso off-label verificaram-se aumentos da dispensa para a trazodona (de 3,81 para 7,92 DHD), mirtazapina (de 3,52 para 6,48 DHD), pregabalina (de 3,15 para 4,87 DHD), quetiapina (de 2,68 para 4,59 DHD) e gabapentina (de 1,32 para 1,90 DHD), mas mais significativo ou apenas verificado nas formulações com dosagem mais baixa. A mediana dos resultados do indicador “proporção de idosos sem prescrição de sedativos, ansiolíticos e hipnóticos” em 2015 foi de 81,0, tendo em 2020 aumentado para 84,9. A mediana do indicador “proporção de utentes sem prescrição prolongada de ansiolíticos, sedativos e hipnóticos” em 2019 foi de 93,6 e aumentou para 94,3 em 2020.
Conclusão: Globalmente, verificou-se uma redução da dispensa de benzodiazepinas prescritas na Região de Lisboa e Vale do Tejo. Parece existir uma alteração do padrão de prescrição no tratamento da insónia. São necessários estudos mais robustos para confirmar esta observação.
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