Cirurgia de Epilepsia Ressectiva e Respetivos Diagnósticos Histopatológicos: Estudo de Coorte Retrospectivo
DOI:
https://doi.org/10.20344/amp.18712Palavras-chave:
Epilepsia/cirurgia, Epilepsia/patologia, Procedimentos NeurocirúrgicosResumo
Introdução: Nas últimas décadas, a cirurgia ressectiva demonstrou ser uma opção valiosa no tratamento da epilepsia farmacorresistente. A classificação histopatológica foi de grande importância na orientação do doente. Os objetivos deste estudo foram caracterizar a nossa série de cirurgia de epilepsia ressectiva incluindo os diagnósticos histopatológicos, e compreender as diferenças na prática clínica entre dois períodos diferentes do programa de cirurgia da epilepsia.
Material e Métodos: Realizou-se um estudo de coorte retrospetivo, incluindo doentes com epilepsia farmacorresistente submetidos a cirurgia ressectiva entre 1997 e 2021 no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra. Os diagnósticos histopatológicos foram classificados em sete categorias. Para análise comparativa, a coorte foi dividida em dois períodos consecutivos de 12 anos.
Resultados: Um total de 259 doentes foram incluídos, sendo 228 (88%) adultos aquando da cirurgia. A mediana da duração da doença antes da cirurgia foi de 14 (amplitude interquartil 23) anos. Cinquenta e cinco (21%) doentes realizaram investigação invasiva pré-cirúrgica. O lobo temporal foi a região mais frequentemente operada (73%). Complicações pós-cirúrgicas major e minor foram identificadas em 21 (8%) doentes. Uma redução no número de antiepiléticos foi observada em 96 (37%) doentes após a cirurgia. O diagnóstico histopatológico mais comum foi a esclerose do hipocampo, mas nas crianças foi o tumor associado a epilepsia de longa duração. Tumores associados a epilepsia de longa duração, esclerose do hipocampo e malformações vasculares tiveram os melhores resultados pós-operatórios. Malformações do desenvolvimento cortical e cicatrizes gliais tiveram os piores resultados. Relativamente às diferenças entre os dois períodos, o número absoluto de doentes operados aumentou (119 versus 140), e a idade aquando da cirurgia foi maior no segundo período (p = 0,04). O número de malformações do desenvolvimento cortical aumentou (p = 0,01), mas o número de outros tumores (p = 0,01) e amostras sem lesão (p = 0,03) diminuiu no mesmo período.
Conclusão: Este estudo está de acordo com a literatura atual, reforçando o conhecimento prévio sobre as etiologias estruturais, prática clínica e resultados cirúrgicos ao longo de mais de duas décadas de experiência. Os dados analisados fornecem expectativas realistas sobre a cirurgia de epilepsia e destacam a necessidade de melhorias no paradigma de diagnóstico e tratamento destes doentes.
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