Fatores de Risco para Alta Prorrogada por Motivos Sociais: Um Estudo Retrospectivo
DOI:
https://doi.org/10.20344/amp.18888Palavras-chave:
Alta do Doente, Custos Hospitalares, Factores de Risco, Medicina Interna, Portugal, Tempo de Internamento, Vulnerabilidade SocialResumo
Introdução: Os hospitais deparam-se com uma percentagem das suas camas ocupadas por doentes cuja alta hospitalar está limitada não pela alta clínica, mas por outros fatores. Cria-se a necessidade da identificação precoce dos indivíduos que estão em risco de uma alta prorrogada por motivos sociais (internamentos sociais - IS), de forma a reduzir gastos e a acrescentar valor que se traduza em saúde dos utentes. O objetivo deste estudo foi identificar os fatores de risco demográficos e clínicos que condicionam risco de internamento social.
Material e Métodos: Foram analisados 582 internamentos referentes a um serviço de Medicina Interna de hospital terciário nos anos de 2018 e 2019, e consideradas as características demográficas e comorbidades clínicas dos doentes. Foi feita uma regressão logística binominal ajustada ao sexo, idade e internamento clínico prolongado, para identificação de potenciais fatores de risco associados a alta prorrogada.
Resultados: Foram incluídos neste estudo um total de 473 doentes admitido no serviço no período de dois anos em estudo. Noventa e quatro (19%) doentes tiveram a sua alta prorrogada, dos quais 64 (68%) eram do sexo feminino. As principais características estatisticamente significativas associadas a maior risco de prorrogação da alta foram o sexo feminino (OR 2,84, 95% IC 1,65 – 4,90, p-value < 0,05), o internamento clínico prolongado (OR 2,64, 95% IC 1,60 – 4,937, p-value < 0,05) e a diabetes mellitus (OR 1,87, 95% IC 1,08 – 3,23, p-value < 0,05); para além destes, a presença de insuficiência cardíaca (OR 0,52, 95% IC 0,27 – 0,99, p-value < 0,05) e de doença renal crónica (OR 0,34, 95% IC 0,14 – 0,86, p-value < 0,05) associaram-se a um risco inferior de prorrogação de alta.
Conclusão: O sexo feminino, os internamentos clínicos prolongados e diabetes mellitus associaram-se a um maior risco de internamento social, enquanto a insuficiência cardíaca e a doença renal crónica se associaram a um risco inferior de IS. Estes achados servem de base de construção para um futuro estudo multicêntrico para criação de uma regra de predição clínica para estratificação do risco de internamento social na população portuguesa.
Downloads
Referências
Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares. 3a Edição Do Barómetro de Internamentos Sociais - Relatório de 2019. Lisboa: APAH; 2019.
Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares. 5a Edição Do Barómetro De Internamentos Sociais. 2021. [consultado 2022 abr 08]. Disponível em: https://apah.pt/wp-content/uploads/2021/05/APAH_5a-Edicao-BIS_Relatorio-resultados.pdf.
Gonçalves-Bradley DC, Lannin NA, Clemson L, Cameron ID, Shepperd S. Discharge planning from hospital. Cochrane Database Syst Rev. 2016;2016:CD000313. DOI: https://doi.org/10.1002/14651858.CD000313.pub5
Ali M, Salehnejad R. Delayed discharges: does staff well-being matter? medRxiv 2020.06.10.20127522. 2020. [consultado 2022 abr 08]. Disponível em: https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.06.10.20127522v1. DOI: https://doi.org/10.1101/2020.06.10.20127522
Bai AD, Dai C, Srivastava S, Smith CA, Gill SS. Risk factors, costs and complications of delayed hospital discharge from internal medicine wards at a Canadian academic medical centre: retrospective cohort study. BMC Health Serv Res. 2019;19:1-9. DOI: https://doi.org/10.1186/s12913-019-4760-3
Mendoza Giraldo D, Navarro A, Sánchez-Quijano A, Villegas A, Asencio R, Lissen E. Impact of delayed discharge for nonmedical reasons in a tertiary hospital internal medicine department. Rev Clin Esp. 2012;212:229-34. DOI: https://doi.org/10.1016/j.rce.2011.12.009
Gaughan J, Gravelle H, Siciliani l. Testing the bed-blocking hypothesis: does nursing and care home supply reduce delayed hospital discharges? Health Econ. 2015;24:32-44. DOI: https://doi.org/10.1002/hec.3150
Manzano-Santaella A. Disentangling the impact of multiple innovations to reduce delayed hospital discharges. J Heal Serv Res Policy. 2010;15:41-6. DOI: https://doi.org/10.1258/jhsrp.2009.009049
Schrager J, Halman M, Myers D, Rosenblum L, Nichols R. Impedriments to the course and effectiveness of discharge planning. Soc Work Health Care. 1978;4:65-79. DOI: https://doi.org/10.1300/J010v04n01_07
Lee J, Korba C. Social determinants of health: how are hospitals and health systems investing in and addressing social needs? Deloitte Center for Health Solutions. 2017. [consultado 2022 mai 10]. Disponível em: https://www2.deloitte.com/us/en/pages/life-sciences-and-health-care/articles/addressingsocial-determinants-of-health-hospitals-survey.html.
Fleiss JL, Levin B, Paik MC. Statistical methods for rates and proportions. New York: John Wiley and Sons; 2003. DOI: https://doi.org/10.1002/0471445428
Charlson ME, Charlson RE, Peterson JC, Marinopoulos SS, Briggs WM, Hollenberg JP. The Charlson comorbidity index is adapted to predict costs of chronic disease in primary care patients. J Clin Epidemiol. 2008;61:1234-40. DOI: https://doi.org/10.1016/j.jclinepi.2008.01.006
Carvalho A, Dias C, Morais A, Veríssimo MT, Sousa MC, Campos L, et al. Rede de Referenciação Hospitalar: Medicina Interna. 2016. [consultado 2018 ago 20]. Disponível em: https://www.sns.gov.pt/wp-content/uploads/2018/01/RRH-Medicina-Interna-Para-CP-21-12-2017. pdf.
Hosmer DW, Lemeshow S, Sturdivant RX. Applied logistic regression. New York: John Wiley and Sons; 2013. DOI: https://doi.org/10.1002/9781118548387
Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central. Relatório de gestão de contas do exercício de 2019. Lisboa: CHULC; 2019:139.
Ministério da Saúde. Atividade e internamento hospitalar - Serviço Nacional de Saúde. [consultado 2022 mai 11]. Disponível em: https://transparencia.sns.gov.pt/explore/dataset/atividade-de-internamento-hospitalar/table/?disjunctive.regiao&disjunctive.instituicao&disjunctive.tipo_de_especialidade&sort=tempo.
Pellico-López A, Fernández-Feito A, Cantarero D, Herrero-Montes M, Cayón-De Las Cuevas J, Parás-Bravo P, et al. Delayed discharge for non-clinical reasons in hip procedures: differential characteristics and opportunity cost. Int J Environ Res Public Health. 2021;18:9407. DOI: https://doi.org/10.3390/ijerph18179407
Zanocchi M, Maero B, Francisetti F, Giona E, Nicola E, Margolicci A, et al. Multidimensional assessment and risk factors for prolonged hospitalization in the elderly. Aging Clin Exp Res. 2003;15:305-9. DOI: https://doi.org/10.1007/BF03324514
Awang Husaini DN, Keasberry JF, Haji Abdul Mumin K, Abdul Rahman H. Causes of discharge delays from the acute medical unit (AMU) in a tertiary level teaching hospital, Brunei Darussalam. Proc Singap Healthc. 2022;3. DOI: https://doi.org/10.1177/20101058211006143
Pordata. Esperança de vida à nascença: total e por sexo (base: triénio a partir de 2001). INE. [consultado 2022 mai 10]. Disponível em: https://www.pordata.pt/Portugal/Esperan%C3%A7a+de+vida+%C3%A0+nascen%C3%A7a+total+e+por+sexo+(base+tri%C3%A9nio+a+partir+de+2001)-418.
Brunner-La Rocca HP, Peden CJ, Soong J, Holman PA, Bogdanovskaya M, Barclay L. Reasons for readmission after hospital discharge in patients withchronic diseases- Information from an international dataset. PLoS One. 2020;15:e0233457. DOI: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0233457
van Vliet M, Huisman M, Deeg DJ. Decreasing hospital length of stay: effects on daily functioning in older adults. J Am Geriatr Soc. 2017;65:1214-21. DOI: https://doi.org/10.1111/jgs.14767
Muakkassa FF, Marley RA, Billue KL, Marley M, Horattas S, Yetmar Z, et al. Effect of hospital length of stay on functional independence measure score in trauma patients. Am J Phys Med Rehabil. 2016;95:597-607. DOI: https://doi.org/10.1097/PHM.0000000000000453
McMartin K. Discharge planning in chronic conditions: an evidence-based analysis. Ont Health Technol Assess Ser. 2013;13:1-72.
Mudge AM, Giebel AJ, Cutler AJ. Exercising body and mind: an integrated approach to functional independence in hospitalized older people. J Am Geriatr Soc. 2008;56:630-5. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1532-5415.2007.01607.x
Rendeiro S, Martins A. Impacto das políticas de austeridade no protelamento de altas sociais em hospitais públicos e no trabalho dos assistentes sociais. Repositório Aberto do ISMT (123456789/516). 2015. [consultado 2022 mai 11]. Disponível em: http://repositorio.ismt.pt/handle/123456789/516.
National Institute for Health and Care Excellence. Emergency and acute medical care in over 16s: service delivery and organization. London: NICE; 2018.
Organization for Economic Co-operation and Development . Health at a glance 2019: OECD Indicators. Paris: OECD; 2019.
Direção-Geral da Saúde. Circular Normativa no7 (28/04/04): Planeamento da Alta do Doente com AVC Intervenção dos Assistentes Sociais. 2004. [consultado a 2022 mai 11]. Disponível em: https://servicosocialsaude.files.wordpress.com/2007/11/planeamento-alta-assitentes-sociais.pdf.
Okoniewska B, Santana MJ, Groshaus H, Stajkovic S, Cowles J, Chakrovorty D, et al. Barriers to discharge in an acute care medical teaching unit: a qualitative analysis of health providers’ perceptions. J Multidiscip Healthc. 2015;8:83-9. DOI: https://doi.org/10.2147/JMDH.S72633
McLeod LA. Patient transitions from inpatient to outpatient: where are the risks? Can we address them? J Healthc Risk Manag. 2013;32:13-9. DOI: https://doi.org/10.1002/jhrm.21101
Wong EL, Yam CH, Cheung AW, Leung MC, Chan FW, Wong FY, et al. Barriers to effective discharge planning: a qualitative study investigating the perspectives of frontline healthcare professionals. BMC Health Serv Res. 2011;11. DOI: https://doi.org/10.1186/1472-6963-11-242
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Secção
Licença
Direitos de Autor (c) 2023 Acta Médica Portuguesa
Este trabalho encontra-se publicado com a Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0.
Todos os artigos publicados na AMP são de acesso aberto e cumprem os requisitos das agências de financiamento ou instituições académicas. Relativamente à utilização por terceiros a AMP rege-se pelos termos da licença Creative Commons ‘Atribuição – Uso Não-Comercial – (CC-BY-NC)’.
É da responsabilidade do autor obter permissão para reproduzir figuras, tabelas, etc., de outras publicações. Após a aceitação de um artigo, os autores serão convidados a preencher uma “Declaração de Responsabilidade Autoral e Partilha de Direitos de Autor “(http://www.actamedicaportuguesa.com/info/AMP-NormasPublicacao.pdf) e a “Declaração de Potenciais Conflitos de Interesse” (http://www.icmje.org/conflicts-of-interest) do ICMJE. Será enviado um e-mail ao autor correspondente, confirmando a receção do manuscrito.
Após a publicação, os autores ficam autorizados a disponibilizar os seus artigos em repositórios das suas instituições de origem, desde que mencionem sempre onde foram publicados e de acordo com a licença Creative Commons