Avaliação do Sistema de Triagem de Manchester em Doentes com Crise de Encerramento Agudo Primário do Ângulo Iridocorneano: Um Estudo Retrospetivo
DOI:
https://doi.org/10.20344/amp.19170Palavras-chave:
Glaucoma de Ângulo Fechado/diagnóstico, Glaucoma de Ângulo Fechado/tratamento, Serviço de Urgência Hospitalar, TriagemResumo
Introdução: A crise de encerramento agudo primário do ângulo iridocorneano é uma emergência oftalmológica. O objetivo deste estudo foi descrever os casos admitidos no Serviço de Urgência do Centro Hospitalar Universitário São João, correlacionando a queixa inicial com o nível de triagem de Manchester atribuído e o tempo até observação por Oftalmologia e realização de iridotomia.
Material e Métodos: Análise retrospetiva dos registos clínicos dos doentes com encerramento agudo primário do ângulo, admitidos no Serviço de Urgência entre janeiro de 2010 e dezembro de 2020. Foram revistos 2228 episódios com diagnóstico de glaucoma ou hipertensão ocular para identificação correta dos casos de crise de encerramento do ângulo. Foram extraídas variáveis, nomeadamente o nível de triagem de Manchester atribuído, queixa principal, pressão intraocular à admissão, especialidade responsável pelo primeiro contacto médico e tempos até observação por Oftalmologia e até iridotomia.
Resultados: Foram identificados 120 doentes, 84 (70%) do sexo feminino, com idade média de 68 ± 12 (desvio padrão) anos. A pressão intraocular média à admissão foi de 53,4 ± 12,4 mmHg. Em 9,2% dos doentes a queixa principal foi não-ocular, enquanto 9,2% apresentavam queixas não-oculares e oculares associadas. A maioria (68,1%) dos doentes com queixas não-oculares ou mistas foi triada para um não-oftalmologista. Segundo o sistema de triagem, a maioria (66,7%) dos doentes foi triada com nível amarelo (urgente), 9,2% foram triados com laranja (muito urgente) e nenhum vermelho (emergente). O primeiro especialista a observar os doentes após a triagem foi um oftalmologista em 83,3% dos casos (corretamente triados), enquanto os restantes foram inicialmente observados por outra especialidade. O tempo mediano até observação por Oftalmologia foi de 288 minutos (min. 45, máx. 871) num doente incorretamente triado e 49 minutos (min. 15, máx. 404) (p < 0,001) em doentes corretamente triados. O tempo mediano até realização de iridotomia laser foi de 353 minutos (min. 112, máx. 947) nos doentes incorretamente triados e 203 minutos (min. 22, máx. 1440) nos corretamente triados (p < 0,001).
Conclusão: A maioria dos doentes com crise de encerramento agudo primário do ângulo iridocorneano não foi triada de acordo com o grau de prioridade apropriado segundo o sistema de triagem de Manchester. Nos doentes que não foram imediatamente seguidos por Oftalmologia verificou-se um atraso significativo no diagnóstico e início do tratamento. Torna-se premente a consciencialização dos profissionais de saúde sobre esta condição clínica e a otimização do processo de triagem para minimizar a perda de visão.
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