Consulta de Psiquiatria do Neurodesenvolvimento: Uma Análise a Nível Nacional
DOI:
https://doi.org/10.20344/amp.19652Palavras-chave:
Perturbação do Espetro do Autismo, Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção, Perturbações do Neurodesenvolvimento, Portugal, Serviços de Saúde Mental, Transição para Assistência do AdultoResumo
Introdução: As perturbações do neurodesenvolvimento são caracterizadas pelo atraso ou alteração na aquisição de capacidades em vários domínios do desenvolvimento: motor, social, de linguagem e cognitivo. Deste modo, estas perturbações podem manifestar-se desde a infância até à vida adulta, exigindo a continuidade dos cuidados de saúde. Contudo, vários estudos mostram que existem limitações de acesso dos adultos aos cuidados de saúde nesta área clínica.
Métodos: Foi realizado um estudo observacional descritivo transversal através da aplicação de um questionário anónimo a médicos de Psiquiatria, a nível nacional, no período compreendido entre 6 de outubro e 6 de dezembro de 2020.
Resultados: Foram recolhidos dados de 83 médicos de Psiquiatria (43 internos de especialidade e 40 especialistas). A nível nacional, apenas 16,9% dos serviços de Psiquiatria tinham uma consulta diferenciada de neurodesenvolvimento. Os médicos respondentes reportaram ter observado poucos doentes com perturbações do neurodesenvolvimento: 72,3% observaram um ou nenhum por semana. Dos médicos que referiram ter consulta de neurodesenvolvimento no seu serviço, a maioria (64,3%) não dispunha de equipa multidisciplinar. A transição destes doentes da consulta de Pediatria do Neurodesenvolvimento/Pedopsiquiatria para a de Psiquiatria ocorria em 51,8% por transferência regular intra-hospitalar, contudo em apenas 15,7% ocorria através de protocolo específico ou com a realização de consulta de transição. Por fim, 88% dos médicos de Psiquiatria consideraram ser pertinente a existência de uma consulta de perturbações do neurodesenvolvimento no adulto e relataram não possuir formação especializada na área do neurodesenvolvimento.
Conclusão: Este estudo possibilitou enumerar alguns obstáculos para que os doentes com perturbações do neurodesenvolvimento usufruam de uma transição de cuidados de saúde para a vida adulta favorável: carência de conhecimento na área, necessidade de melhor comunicação entre serviços, falta de protocolos específicos, escassez de equipas multidisciplinares e assimetria na distribuição de cuidados de saúde diferenciados.
Downloads
Referências
Substance Abuse and Mental Health Services Administration. Impact of the DSM-IV to DSM-5 changes on the national survey on drug use and health. Rockville: Substance Abuse and Mental Health Services Administration; 2016.
Jeste SS. Neurodevelopmental behavioral and cognitive disorders. Continuum. 2015;21:690-714. DOI: https://doi.org/10.1212/01.CON.0000466661.89908.3c
American Psychiatric Association. Diagnostic and statistical manual of mental disorders (DSM-5®). Washington, DC: American Psychiatric Publishing; 2013. DOI: https://doi.org/10.1176/appi.books.9780890425596
Thapar A, Cooper M, Rutter M. Neurodevelopmental disorders. Lancet Psychiatry. 2017;4:339-46. DOI: https://doi.org/10.1016/S2215-0366(16)30376-5
Oliveira GG. Epidemiologia do autismo em Portugal: um estudo de prevalência da perturbação do espectro do autismo e de caracterização de uma amostra populacional de idade escolar. 2005. [consultado 2023 abr 18]. Disponível em: http://hdl.handle.net/10316/848.
King C, Merrick H, Le Couteur A. How should we support young people with ASD and mental health problems as they navigate the transition to adult life including access to adult healthcare services. Epidemiol Psychiatr Sci. 2020;29:e90. DOI: https://doi.org/10.1017/S2045796019000830
Davignon MN, Qian Y, Massolo M, Croen LA. Psychiatric and medical conditions in transition-aged individuals with ASD. Pediatrics. 2018;141:S335-45. DOI: https://doi.org/10.1542/peds.2016-4300K
Lord C, Brugha TS, Charman T, Cusack J, Dumas G, Frazier T, et al. Autism spectrum disorder. Nat Rev Dis Primers. 2020;6:1-23. DOI: https://doi.org/10.1038/s41572-019-0138-4
Price A, Mitchell S, Janssens A, Eke H, Ford T, Newlove-Delgado T. In transition with attention deficit hyperactivity disorder (ADHD): children’s services clinicians’ perspectives on the role of information in healthcare transitions for young people with ADHD. BMC Psychiatry. 2022;22:251. DOI: https://doi.org/10.1186/s12888-022-03813-6
Sayal K, Prasad V, Daley D, Ford T, Coghill D. ADHD in children and young people: prevalence, care pathways, and service provision. Lancet Psychiatry. 2018;5:175-86. DOI: https://doi.org/10.1016/S2215-0366(17)30167-0
Faraone SV, Asherson P, Banaschewski T, Biederman J, Buitelaar JK, Ramos-Quiroga JA, et al. Attention-deficit/hyperactivity disorder. Nat Rev Dis Primers. 2015;1:15020. DOI: https://doi.org/10.1038/nrdp.2015.20
Kuo AA, Anderson KA, Crapnell T, Lau L, Shattuck PT. Introduction to transitions in the life course of autism and other developmental disabilities. Pediatrics. 2018;141:S267-71. DOI: https://doi.org/10.1542/peds.2016-4300B
Tatlow-Golden M, Gavin B, McNamara N, Singh S, Ford T, Paul M, et al. Transitioning from child and adolescent mental health services with attention-deficit hyperactivity disorder in Ireland: case note review. Early Interv Psychiatry. 2018;12:505-12. DOI: https://doi.org/10.1111/eip.12408
Buescher AV, Cidav Z, Knapp M, Mandell DS. Costs of autism spectrum disorders in the United Kingdom and the United States. JAMA Pediatrics. 2014;168:721-8. DOI: https://doi.org/10.1001/jamapediatrics.2014.210
Reale L, Costantino MA, Sequi M, Bonati M. Transition to adult mental health services for young people with ADHD. J Atten Disor. 2018;22:601-8. DOI: https://doi.org/10.1177/1087054714560823
Direção-Geral da Saúde. Programa nacional de saúde infantil e juvenil, atualizado em 31/05/2013 e publicado na Norma da DGS n.º 010/2013. Lisboa: DGS; 2013.
Direção-Geral da Saúde. Abordagem diagnóstica e intervenção na perturbação do espetro do autismo em idade pediátrica e no adulto. Publicado na norma da DGS n.º 002/2019 de 23/04/2019. Lisboa: DGS; 2019.
Ordem dos Médicos. Estatísticas de médicos inscritos na Ordem dos Médicos – estatísticas por especialidades; 2019. [consultado 2019 dez 29]. Disponível em: https://ordemdosmedicos.pt/wp-content/uploads/2020/01/ESTATISTICAS_ESPECIALIDADES_2019.pdf.
Kohn MA, Senyak J. Sample size calculators. UCSF CTSI. 2020. [citado 2021 fev 02]. Disponível em: https://www.sample-size.net/.
Statistics Kingdom. Mann Whitney U test calculator. 2017. [consultado 2021 fev 02]. Disponível em: http://www.statskingdom.com/.
Zeng S, Strain A, Sung C. Health care transition services and adaptive and social-emotional functioning of youth with autism spectrum disorder. J Autism Dev Disord. 2021;51:589-99. DOI: https://doi.org/10.1007/s10803-020-04564-7
Nathenson RA, Zablotsky B. The transition to the adult health care system among youths with autism spectrum disorder. Psychiatr Serv. 2017;68:735-8. DOI: https://doi.org/10.1176/appi.ps.201600239
Young S, Adamou M, Asherson P, Coghill D, Colley B, Gudjonsson G, et al. Recommendations for the transition of patients with ADHD from child to adult healthcare services: a consensus statement from the UK adult ADHD network. BMC Psychiatry. 2016;16:301. DOI: https://doi.org/10.1186/s12888-016-1013-4
Reale L, Frassica S, Gollner A, Bonati M. Transition to adult mental health services for young people with attention deficit hyperactivity disorder in Italy: parents’ and clinicians’ experiences. Postgrad Med. 2015;127:671-6. DOI: https://doi.org/10.1080/00325481.2015.1070658
Cheak-Zamora NC, Teti M. “You think it’s hard now... It gets much harder for our children”: youth with autism and their caregiver’s perspectives of health care transition services. Autism. 2015;19:992-1001. DOI: https://doi.org/10.1177/1362361314558279
Kuhlthau KA, Warfield ME, Hurson J, Delahaye J, Crossman MK. Pediatric provider’s perspectives on the transition to adult health care for youth with autism spectrum disorder: current strategies and promising new directions. Autism. 2015;19:262-71. DOI: https://doi.org/10.1177/1362361313518125
Malik-Soni N, Shaker A, Luck H, Mullin AE, Wiley RE, Lewis ME, et al. Tackling healthcare access barriers for individuals with autism from diagnosis to adulthood. Pediatr Res. 2022;91:1028-35. DOI: https://doi.org/10.1038/s41390-021-01465-y
Kooij JJ, Bijlenga D, Salerno L, Jaeschke R, Bitter I, Balázs J, et al. Updated European Consensus Statement on diagnosis and treatment of adult ADHD. Eur Psychiatry. 2019;56:14-34. DOI: https://doi.org/10.1016/j.eurpsy.2018.11.001
National Institute for Health and Care Excellence (NICE). Attention deficit hyperactivity disorder: diagnosis and management (NG87). London: NICE; 2018.
National Institute for Health and Care Excellence (NICE). Autism spectrum disorder in adults: diagnosis and management. London: NICE; 2012.
Hartmann K, Urbano MR, Raffaele CT, Kreiser NL, Williams TV, Qualls LR, et al. Outcomes of an emotion regulation intervention group in young adults with autism spectrum disorder. Bull Menninger Clin. 2019;83:259-77. DOI: https://doi.org/10.1521/bumc.2019.83.3.259
Björk A, Rönngren Y, Wall E, Vinberg S, Hellzen O, Olofsson N. A nurse-led lifestyle intervention for adult persons with attention-deficit/hyperactivity disorder (ADHD) in Sweden. Nord J Psychiatry. 2020;74:602-12. DOI: https://doi.org/10.1080/08039488.2020.1771768
Gentile JP, Atiq R. Psychotherapy for the patient with adult ADHD. Psychiatry. 2006;3:31.
American Occupational Therapy Association. Occupational therapy using a sensory integration-based approach with adult populations. Fact Sheet. North Bethesda; AOTA; 2011.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Secção
Licença
Direitos de Autor (c) 2023 Acta Médica Portuguesa
Este trabalho encontra-se publicado com a Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0.
Todos os artigos publicados na AMP são de acesso aberto e cumprem os requisitos das agências de financiamento ou instituições académicas. Relativamente à utilização por terceiros a AMP rege-se pelos termos da licença Creative Commons ‘Atribuição – Uso Não-Comercial – (CC-BY-NC)’.
É da responsabilidade do autor obter permissão para reproduzir figuras, tabelas, etc., de outras publicações. Após a aceitação de um artigo, os autores serão convidados a preencher uma “Declaração de Responsabilidade Autoral e Partilha de Direitos de Autor “(http://www.actamedicaportuguesa.com/info/AMP-NormasPublicacao.pdf) e a “Declaração de Potenciais Conflitos de Interesse” (http://www.icmje.org/conflicts-of-interest) do ICMJE. Será enviado um e-mail ao autor correspondente, confirmando a receção do manuscrito.
Após a publicação, os autores ficam autorizados a disponibilizar os seus artigos em repositórios das suas instituições de origem, desde que mencionem sempre onde foram publicados e de acordo com a licença Creative Commons