Hábitos Alimentares das Pessoas com Diabetes Mellitus Tipo 2 em Portugal: Um Estudo Transversal
DOI:
https://doi.org/10.20344/amp.19738Palavras-chave:
Comportamento Alimentar, Diabetes Mellitus Tipo 2, Ingestão de AlimentosResumo
Introdução: A nutrição é uma área de intervenção na prevenção e gestão da diabetes mellitus; por isso, é fulcral promover a capacitação da população para a adoção de hábitos alimentares saudáveis. Ainda que existam alguns estudos nesta área, não se conhecem os principais erros nos hábitos alimentares das pessoas com diabetes em Portugal. Os objetivos deste estudo foram identificar os principais erros nos hábitos alimentares das pessoas com diabetes mellitus tipo 2 em Portugal e avaliar a sua relação com variáveis sociodemográficas.
Métodos: Estudo transversal multicêntrico, em amostra de conveniência de pessoas com diabetes mellitus tipo 2 seguidas em Unidades de Cuidados de Saúde Primários. Aplicação do UK Diabetes and Diet Questionnaire (UKDDQ) – traduzido e adaptado, de julho a outubro de 2022. Análise estatística descritiva e inferencial.
Resultados: Amostra de 550 participantes, 52,2% do sexo feminino, 68,3% com 65 anos ou mais, 55,8% com nível de escolaridade igual ou inferior ao 1.º ciclo do ensino básico, 24,7% com insuficiência económica e tempo desde o diagnóstico médio de 10,60 ± 8,13 anos. Apenas 36,2% da amostra obteve um score UKDDQ considerado saudável. Menos de 50% obteve scores saudáveis para os itens “arroz ou massa ricos em fibras”, “pão integral”, “manteiga, margarina e óleos vegetais” e “vegetais e leguminosas”. Somente 8,9% da amostra obteve score saudável para o consumo de fibras. Cerca de 70,4% obteve score saudável para o consumo de açúcares livres e 54,7% para o consumo de ácidos gordos saturados. Verificou-se a existência de uma correlação com significado estatístico positiva fraca entre o score UKDDQ e a idade (ρ = 0,201, p < 0,001), com escolha mais frequente de alimentos saudáveis com o aumentar da idade. As pessoas do sexo feminino reportaram hábitos alimentares mais saudáveis, particularmente no consumo de fibras e ácidos gordos saturados.
Conclusão: A maior parte da nossa amostra não usufruiu do potencial efeito positivo de uma alimentação saudável. Individualizam-se grupos de alimentos cujos consumos devem ser enfatizados ou desencorajados, particularmente, a necessidade de incentivar o consumo de alimentos ricos em fibra. Ações educacionais dirigidas devem ter especial foco em pessoas mais jovens e/ou do sexo masculino.
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