Desafios da Utilização da Telemedicina em Consultas de Especialidade Hospitalar, durante a Pandemia de COVID-19 em Portugal, Segundo um Painel de Peritos
DOI:
https://doi.org/10.20344/amp.19931Palavras-chave:
Acessibilidade aos Serviços de Saúde, COVID-19, Encaminhamento e Consulta, Portugal, Saúde Digital, TelemedicinaResumo
Introdução: A pandemia de COVID-19 acelerou a adoção da telemedicina como meio de reduzir o contato presencial e proteger profissionais e pacientes. Em Portugal, o número de consultas de telemedicina hospitalar aumentou significativamente. No entanto, a implementação rápida da telemedicina também levou a disparidades no acesso a esses serviços, resultando em desigualdades na prestação de cuidados de saúde. O objetivo deste estudo foi identificar os principais desafios no acesso às consultas de especialidades médicas hospitalares através da telemedicina em Portugal durante a pandemia de COVID-19. Além disso, este estudo visou estabelecer um consenso sobre possíveis soluções para os desafios identificados.
Métodos: Este estudo utilizou a técnica de grupo nominal, que envolveu um painel de 10 especialistas. O painel gerou um total de 71 ideias, que foram então categorizadas em três grupos: A) desafios relacionados com os pacientes, que impactam o acesso às consultas de especialidades médicas hospitalares através da telemedicina; B) desafios relacionados com os profissionais, instituições e sistemas de saúde, que impactam o acesso às consultas de especialidades médicas hospitalares através da telemedicina; C) recomendações para superar os desafios enfrentados na adoção de soluções de telemedicina. Cada uma das ideias foi avaliada, pontuada e classificada com base na sua relevância considerando os objetivos do estudo.
Resultados: Este estudo identificou vários desafios significativos que impactaram a adoção da telemedicina em Portugal durante a pandemia de COVID-19. Os desafios relacionados com os pacientes (A) considerados mais relevantes foram baixa literacia digital, falta de informação sobre os processos de telemedicina, baixa familiaridade com as tecnologias e desconfiança sobre a qualidade dos serviços; os desafios que afetaram os profissionais de saúde, instituições e sistemas de saúde (B) e foram considerados mais relevantes foram a falta de integração da telemedicina no percurso do paciente, baixa motivação para adotar soluções de telemedicina, pouca interoperabilidade entre sistemas e a ausência do equipamento tecnológico necessário. As recomendações mais relevantes (C) incluíram investir em instituições de saúde, desenvolver diretrizes claras para a segurança e qualidade das práticas de telemedicina e incorporar a telemedicina nos currículos das profissões de saúde.
Conclusão: Este estudo identificou vários desafios que impactaram a adoção e implementação de serviços de telemedicina para cuidados hospitalares em Portugal durante o período da pandemia. Esses desafios estavam relacionados com a literacia em saúde digital, condições tecnológicas e operacionais e relutância na adoção tecnológica. Para superar esses desafios, podem ser necessários programas de formação para profissionais de saúde e pacientes, juntamente com investimento em infraestruturas tecnológicas, interoperabilidade entre sistemas, estratégias de comunicação eficazes e o fortalecimento de regulamentações específicas.
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