Diferenças nas Trajetórias Psicofarmacológicas de Crianças em Idade Escolar com Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção com e sem Perturbação do Desenvolvimento Intelectual
DOI:
https://doi.org/10.20344/amp.20712Palavras-chave:
Antipsicóticos, Criança, Perturbação do Desenvolvimento Intelectual, Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção, PsicotrópicosResumo
Introdução: A perturbação de hiperatividade e défice de atenção (PHDA) afeta 5% - 7% das crianças em idade escolar, enquanto a perturbação do desenvolvimento intelectual (PDI) afeta cerca de 1% da população geral. Diagnosticar e tratar PHDA em indivíduos com PDI é desafiante, não só devido às dificuldades comunicacionais, como também às comorbilidades psiquiátricas que podem estar presentes, o que pode culminar no subdiagnóstico de PHDA e na maior prescrição de outros psicofármacos. Este estudo teve como objetivo determinar as diferenças no tratamento psicofarmacológico e no número de comorbilidades e de outros psicofármacos prescritos entre doentes com PHDA com e sem PDI.
Métodos: No estudo, foram incluídas 845 crianças, divididas em dois grupos: 574 com PHDA sem PDI e 271 com PHDA e com PDI. Foi usado o Microsoft ® Excel® para calcular o teste t de Student e foi assumida a significância estatística usando o valor standard de p < 0,05.
Resultados: Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas no número médio de psicoestimulantes prescritos entre grupos (p = 0,57). Entre aqueles com PHDA sem PDI, 52.4% mudaram de psicoestimulante e, no grupo com PHDA e PDI, essa alteração ocorreu em 56.1%. Foram encontradas diferenças estatisticamente significativas no número médio de outros psicofármacos prescritos por doente (p < 0,05) e no número de antipsicóticos prescritos (p < 0,05). Apesar de o nosso estudo mostrar mais prescrições de antipsicóticos para doentes com PDI em relação aos doentes sem PDI, alguns estudos relatam um uso semelhante de antipsicóticos entre esses grupos. Além disso, o grupo com PDI apresentou significativamente mais comorbilidades do que o grupo sem PDI (p < 0,05). Este achado vai ao encontro da literatura, que mostra uma maior prevalência de comorbilidades psiquiátricas em amostras com PDI em comparação com amostras sem PDI (50% vs 18%).
Conclusão: Em suma, indivíduos com PDI apresentam mais comorbilidades psiquiátricas e recebem mais prescrições de psicofármacos. Além disso, a possibilidade de ocorrerem mais efeitos adversos e a ineficácia dos psicoestimulantes nas populações com PDI exigem uma monitorização cuidadosa após o seu início.
Downloads
Referências
Thomas R, Sanders S, Doust J, Beller E, Glasziou P. Prevalence of attention-deficit/hyperactivity disorder: a systematic review and metaanalysis. Pediatrics. 2015;135:994-1001.
American Psychiatry Association. Diagnostic and statistical manual of mental disorders. 4th ed. Washington: American Psychiatric Publishing; 2013.
National Institute for Health and Care Excellence. Attention deficit hyperactivity disorder: diagnosis and management. 2018. [cited 2024 Jul 03]. Available from: https://www.nice.org.uk/guidance/ng87/resources/ attention-deficit-hyperactivity-disorder-diagnosis-and-managementpdf- 1837699732933.
Winterstein AG, Soria-Saucedo R, Gerhard T, Correll CU, Olfson M. Differential risk of increasing psychotropic polypharmacy use in children diagnosed with ADHD as preschoolers. J Clin Psychiatry. 2017;78:744- 81.
Reale L, Bartoli B, Cartabia M, Zanetti M, Constantino MA, Canevini MP, et al. Comorbidity prevalence and treatment outcome in children and adolescents with ADHD. Eur Child Adolesc Psychiatry. 2017;26:1443- 57.
Larsson I, Aili K, Lonn M, Svedberg P, Nygren JM, Ivarsson A, et al. Sleep interventions for children with attention deficit hyperactivity disorder (ADHD): a systematic literature review. Sleep Medicine. 2022;102:64- 75.
Efron D, Lycett K, Sciberras E. Use of sleep medication in children with ADHD. Sleep Med. 2014;15:472-5.
Becker SP. ADHD and sleep: recent advances and future directions. Curr Opin Psychol. 2020;34:50-6.
Maulik PK, Mascarenhas MN, Mathers CD, Dua T, Saxena S. Prevalence of intellectual disability: a meta-analysis of population-based studies. Res Dev Disabil. 2011;32:419-36.
Emerson E. Prevalence of psychiatric disorders in children and adolescents with and without intellectual disability. J Intellect Disabil Res. 2003;47:51-8.
Moura O, Costa P, Simões MR. WISC-III cognitive profiles in children with ADHD: specific cognitive impairments and diagnostic utility. J Gen Psychol. 2019;146:258-82.
Miller J, Perera B, Shankar R. Clinical guidance on pharmacotherapy for the treatment of attention-deficit hyperactivity disorder (ADHD) for people with intellectual disability. Expert Opin Pharmacother. 2020;21:1897-913. 13. Cooper SA, Smiley E, Morrison J, Williamson A, Allan L. Mental ill-health in adults with intellectual disabilities: prevalence and associated factors. Br J Psychiatry. 2007;190:27-35.
Turk J. Sleep disorders in children and adolescents with learning disabilities and their management. Adv Ment Health Learn Disabil. 2010;4:50-9.
Lihabi AA. A literature review of sleep problems and neurodevelopment disorders. Front Psychiatry. 2023;14:1122344.
Osunsanmi S, Turk J. Influence of age, gender, and living circumstances on patterns of attention-deficit/hyperactivity disorder medication use in children and adolescents with or without intellectual disabilities. J Child Adolesc Psychopharmacol. 2016;26:828-34.
Perera B, Chen J, Korb L, Borakati A, Courtenay K, Henley W, et al. Patterns of comorbidity and psychopharmacology in adults with intellectual disability and attention deficit hyperactivity disorder: an UK national cross-sectional audit. Expert Opin Pharmacother. 2021;22:1071-8.
Aman MG, Kern RA, Mcghee DE, Arnold LE. FenfluramiI and methylphenidate in children with mental retardation and ADHD: clinical and side effects. J Am Acad Child Adolesc Psychiatry. 1993;32:851-9.
Hande BL, Feldman H, Gosling A, Breaux AM, McAuliffe S. Adverse side effects of methylphenidate among mentally retarded children with ADHD. J Am Acad Child Adolesc Psychiatry. 1991;30:241-5.
Simonoff E, Taylor E, Baird G, Bernard S, Chadwick O, Liang H, et al. Randomized controlled double-blind trial of optimal dose methylphenidate in children and adolescents with severe attention deficit hyperactivity disorder and intellectual disability. J Child Psychol Psychiatry. 2012;54:527-35.
Tarrant N, Roy M, Deb S, Odedra S, Retzer A, Roy A. The effectiveness of methylphenidate in the management of attention deficit hyperactivity disorder (ADHD) in people with intellectual disabilities: a systematic review. Res Dev Disabil. 2018;83:217-32.
Greenhill LL, Swanson JM, Vitiello B, Davies M, Clevenger W, Wu M, et al. Impairment and deportment responses to different methylphenidate doses in children with ADHD: the MTA titration trial. J Am Acad Child Adolesc Psychiatry. 2001;40:180-7.
Barkley RA. Attention-deficit hyperactivity disorder: a handbook for diagnosis and treatment. 4th ed. New York: Guilford Press; 2015.
Hesapcioglu ST, Ceylan MF, Kasak M, Yavas CP. Psychiatric comorbidities of mild intellectual disability in children and adolescents in a clinical setting. Int J Dev Disabil. 2019;67:151-7.
Dekker MC, Koot HM, van der Ende J, Verhulst FC. Emotional and behavioral problems in children and adolescents with and without intellectual disability. J Child Psychol Psychiatry. 2002;43:1087-97.
Emerson E, Hatton C. Mental health of children and adolescents with intellectual disabilities in Britain. Br J Psychiatry. 2007;191:493-9.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Secção
Licença
Direitos de Autor (c) 2025 Acta Médica Portuguesa

Este trabalho encontra-se publicado com a Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0.
Todos os artigos publicados na AMP são de acesso aberto e cumprem os requisitos das agências de financiamento ou instituições académicas. Relativamente à utilização por terceiros a AMP rege-se pelos termos da licença Creative Commons ‘Atribuição – Uso Não-Comercial – (CC-BY-NC)’.
É da responsabilidade do autor obter permissão para reproduzir figuras, tabelas, etc., de outras publicações. Após a aceitação de um artigo, os autores serão convidados a preencher uma “Declaração de Responsabilidade Autoral e Partilha de Direitos de Autor “(http://www.actamedicaportuguesa.com/info/AMP-NormasPublicacao.pdf) e a “Declaração de Potenciais Conflitos de Interesse” (http://www.icmje.org/conflicts-of-interest) do ICMJE. Será enviado um e-mail ao autor correspondente, confirmando a receção do manuscrito.
Após a publicação, os autores ficam autorizados a disponibilizar os seus artigos em repositórios das suas instituições de origem, desde que mencionem sempre onde foram publicados e de acordo com a licença Creative Commons

