Validação do Questionário de Recuperação Bipolar para a População Portuguesa: Recuperação e Preditores em Pessoas com Perturbação Bipolar
DOI:
https://doi.org/10.20344/amp.20790Palavras-chave:
Inquéritos e Questionários, Perturbação Bipolar, Psicometria, Qualidade de Vida, Recuperação de Função Fisiológica, Reprodutibilidade dos Testes, TraduçõesResumo
Introdução: O paradigma da saúde mental está a evoluir progressivamente para uma perspetiva centrada na recuperação. Assim, são necessários instrumentos validados para medir a recuperação na perturbação bipolar (PB). O Questionário de Recuperação Bipolar (BRQ) é o instrumento mais utilizado para avaliar este construto. O objetivo deste estudo foi traduzir e realizar uma adaptação transcultural do BRQ para o português europeu (PT-PT), explorar associações adicionais da recuperação com características sociodemográficas e regulação emocional, e investigar preditores de recuperação para contribuir para estudos e práticas clínicas futuras.
Métodos: Foi feita a tradução do BRQ para português e retroversão, chegando-se a uma versão consensual entre os tradutores, e um desenho teste-reteste foi usado para avaliar a estabilidade temporal do instrumento. Os participantes foram recrutados em hospitais públicos e organizações de apoio a pessoas com PB pelos seus psiquiatras, psicólogos ou por autorreferenciação. Oitenta e oito pessoas com diagnóstico de PB preencheram uma bateria de questionários de autorresposta. para avaliar a recuperação (BRQ), sintomas clínicos de humor (Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão), afeto (Escala de Afeto Positivo e Negativo), bem-estar (Qualidade de Vida Breve para Perturbação Bipolar; Escala de Satisfação com a Vida) e regulação emocional (Escala de Dificuldades na Regulação Emocional).
Resultados: O BRQ apresentou uma excelente consistência interna, com um alfa de Cronbach de 0,92, e o teste-reteste apresentou uma boa fiabilidade (r = 0,88). A validade do constructo foi confirmada através das correlações positivas e moderadas com a qualidade de vida (r = 0,58) e afeto positivo (r = 0,52), e correlações negativas moderadas com a depressão (r = -0,64) e o afeto negativo (r = -0,55). Tanto a satisfação com a vida (β = 0,38, p = 0,010) como a recuperação (β = 0,34, p = 0,022) tiveram impacto na qualidade de vida, apoiando a validade incremental do BRQ. Os sintomas depressivos e a desregulação emocional foram responsáveis por 51% da sua variância.
Conclusão: O BRQ é um instrumento válido e fiável para medir a recuperação em pessoas com PB na população portuguesa, sendo adequado para contextos clínicos e de investigação.
Downloads
Referências
Merikangas KR, Jin R, He JP, Kessler RC, Lee S, Sampson NA, et al. Prevalence and correlates of bipolar spectrum disorder in the world mental health survey initiative. Arch Gen Psychiatry. 2011;68:241-51. DOI: https://doi.org/10.1001/archgenpsychiatry.2011.12
Treuer T, Tohen M. Predicting the course and outcome of bipolar disorder: a review. Eur Psychiatry. 2010;25:328-33. DOI: https://doi.org/10.1016/j.eurpsy.2009.11.012
Echezarraga A, Calvete E, González-Pinto AM, Las Hayas C. Resilience dimensions and mental health outcomes in bipolar disorder in a follow-up study. Stress Heal. 2018;34:115-26. DOI: https://doi.org/10.1002/smi.2767
Bonnin CD, Reinares M, Martinez-Aran A, Jimenez E, Sanchez-Moreno J, Sole B, et al. Improving functioning, quality of life, and well-being in patients with bipolar disorder. Int J Neuropsychopharmacol. 2019;22:467-77. DOI: https://doi.org/10.1093/ijnp/pyz018
Andersson P, Tistad M, Eriksson Å, Enebrink P, Sturidsson K. Implementation and evaluation of illness management and recovery (IMR) in mandated forensic psychiatric care – study protocol for a multicenter cluster randomized trial. Contemp Clin Trials Commun. 2022;27:100907. DOI: https://doi.org/10.1016/j.conctc.2022.100907
Nestsiarovich A, Hurwitz NG, Nelson SJ, Crisanti AS, Kerner B, Kuntz MJ, et al. Systemic challenges in bipolar disorder management: a patient-centered approach. Bipolar Disord. 2017;19:676-88. DOI: https://doi.org/10.1111/bdi.12547
Yildiz A, Ruiz P, Nemeroff CB, editors. The bipolar book: history, neurobiology, and treatment. New York: Oxford University Press; 2015. DOI: https://doi.org/10.1093/med/9780199300532.001.0001
Chirio-Espitalier M, Schreck B, Duval M, Hardouin JB, Moret L, Bronnec MG. Exploring the personal recovery construct in bipolar disorders: definition, usage and measurement. a systematic review. Front Psychiatry . 2022;13:876761. DOI: https://doi.org/10.3389/fpsyt.2022.876761
Ogilvie AD, Morant N, Goodwin GM. The burden on informal caregivers of people with bipolar disorder. Bipolar Disord. 2005;7:25-32. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1399-5618.2005.00191.x
Frost BG, Tirupati S, Johnston S, Turrell M, Lewin TJ, Sly KA, et al. An integrated recovery-oriented model (IRM) for mental health services: evolution and challenges. BMC Psychiatry. 2017;17:1-17. DOI: https://doi.org/10.1186/s12888-016-1164-3
Jacob K. Recovery model of mental illness: a complementary approach to psychiatric care. Indian J Psychol Med. 2015;37:117-9. DOI: https://doi.org/10.4103/0253-7176.155605
Carpiniello B, Vita A, Mencacci C, editors. Recovery and major mental disorders. Cham: Springer International Publishing; 2022. DOI: https://doi.org/10.1007/978-3-030-98301-7
Fico G, Anmella G, Murru A, Vieta E. Predictors of clinical recovery in bipolar disorders. In: Carpiniello B, Vita A, Mencacci C, editors. Recovery and major mental disorders . Cham: Springer International Publishing; 2022. p. 155-72. DOI: https://doi.org/10.1007/978-3-030-98301-7_10
Thornton T, Lucas P. On the very idea of a recovery model for mental health. J Med Ethics. 2011;37:24-8. DOI: https://doi.org/10.1136/jme.2010.037234
Neil ST, Killbride M, Pitt L, Nothard S, Welford M, Sellwood W, et al. The questionnaire about the process of recovery (QPR): a measurement tool developed in collaboration with service users. Psychosis. 2009;1:145-55. DOI: https://doi.org/10.1080/17522430902913450
Law H, Neil ST, Dunn G, Morrison AP. Psychometric properties of the questionnaire about the process of recovery (QPR). Schizophr Res. 2014;156:184-9. DOI: https://doi.org/10.1016/j.schres.2014.04.011
Williams J, Leamy M, Pesola F, Bird V, Le Boutillier C, Slade M. Psychometric evaluation of the questionnaire about the process of recovery (QPR). Br J Psychiatry. 2015;207:551-5. DOI: https://doi.org/10.1192/bjp.bp.114.161695
Kraiss JT, Ten Klooster PM, Chrispijn M, Stevens AW, Kupka RW, Bohlmeijer ET. Measuring personal recovery in people with bipolar disorder and exploring its relationship with well-being and social role participation. Clin Psychol Psychother. 2019;26:540-9. DOI: https://doi.org/10.1002/cpp.2371
Jones S, Mulligan LD, Higginson S, Dunn G, Morrison AP. The bipolar recovery questionnaire: psychometric properties of a quantitative measure of recovery experiences in bipolar disorder. J Affect Disord. 2013;147:34-43. DOI: https://doi.org/10.1016/j.jad.2012.10.003
Fenn J, Tan CS, George S. Development, validation and translation of psychological tests. B J Psych Adv. 2020;26:306-15. DOI: https://doi.org/10.1192/bja.2020.33
Hirschfeld RM. The mood disorder questionnaire: a simple, patient-rated screening instrument for bipolar disorder. Prim Care Companion J Clin Psychiatry. 2002;4:9-11. DOI: https://doi.org/10.4088/PCC.v04n0104
Azevedo J, Castilho P, Carreiras D, Martins MJ, Carvalho CB, Cherpe S, et al. Development of the clinical interview for bipolar disorder (CIBD) – rational and experts’ panel evaluation. J Neurol Neurol Sci Disord. 2023;9:45-54. DOI: https://doi.org/10.17352/jnnsd.000056
Castelo MS, Carvalho ER, Gerhard ES, Costa CM, Ferreira ED, Carvalho AF. Validação da versão em português do questionário de transtornos do humor em uma população de pacientes psiquiátricos. Braz J Psychiatry. 2010;32:424-8. DOI: https://doi.org/10.1590/S1516-44462010005000024
Michalak EE, Murray G, Collaborative RESearch Team to Study Psychosocial Issues in Bipolar Disorder (CREST.BD). Development of the QoL.BD: a disorder-specific scale to assess quality of life in bipolar disorder. Bipolar Disord. 2010;12:727-40. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1399-5618.2010.00865.x
Azevedo J, Roque M, Carreiras D, Castilho P, Macedo A. Quality of life in bipolar disorder: portuguese validation of the brief QoL.BD questionnaire. J Psychiatry Ment Disord. 2023;8:1-7. DOI: https://doi.org/10.26420/JPsychiatryMentalDisord.2023.1064
Galinha IC, Pais-Ribeiro J. Contribuição para o estudo da versão portuguesa da positive and negative affect schedule (PANAS): II – estudo psicométrico. Análise Psiclógica. 2005;2:219-27. DOI: https://doi.org/10.14417/ap.84
Watson D, Clark L, Tellegen A. Development and validation of brief measures of positive and negative affect: the PANAS scales. J Pers Soc Psychol. 1988;54:1063-70. DOI: https://doi.org/10.1037//0022-3514.54.6.1063
Zigmond AS, Snaith RP, Snaith PR. The hospital anxiety and depression scale. Acta Psychiatr Scand.1983;67:361-70. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1600-0447.1983.tb09716.x
Pais-Ribeiro J, Silva I, Ferreira T, Martins A, Meneses R, Baltar M. Validation study of a portuguese version of the hospital anxiety and depression scale. Psychol Health Med. 2007;12:225-37. DOI: https://doi.org/10.1080/13548500500524088
Diener E, Emmons RA, Larsen RJ, Griffin S. The satisfaction with life scale. J Pers Assess. 1985;49:71-5. DOI: https://doi.org/10.1207/s15327752jpa4901_13
Laranjeira CA. Preliminary validation study of the portuguese version of the satisfaction with life scale. Psychol Heal Med. 2009;14:220-6. DOI: https://doi.org/10.1080/13548500802459900
Coutinho J, Ribeiro E, Ferreirinha R, Dias P. Versão portuguesa da escala de dificuldades de regulação emocional e sua relação com sintomas psicopatológicos. Rev Psiquiatr Clin. 2010;37:145-51. DOI: https://doi.org/10.1590/S0101-60832010000400001
Gratz KL, Roemer L. Multidimensional assessment of emotion regulation and dysregulation: development, factor structure, and initial validation of the difficulties in emotion regulation scale. J Psychopathol Behav Assess. 2004;26:41-54. DOI: https://doi.org/10.1023/B:JOBA.0000007455.08539.94
Kline RB. Principles and practice of structural equation modeling. New York: Guilford Press; 2005.
Peterson RA. A meta-analysis of cronbach’s coefficient alpha. J Consum Res. 1994;21:381-91. DOI: https://doi.org/10.1086/209405
Dancey C, Reidy J. Statistics without maths for psychology. 7th ed. London: Pearson Education; 2017.
Field A, Miles J, Field Z. Discovering statistics using SPSS. Sage. 2013;81:169-70. DOI: https://doi.org/10.1111/insr.12011_21
Todd NJ, Jones SH, Lobban FA. “Recovery” in bipolar disorder: how can service users be supported through a self-management intervention? A qualitative focus group study. J Ment Heal. 2012;21:114-26. DOI: https://doi.org/10.3109/09638237.2011.621471
Kraiss JT, ten Klooster PM, Frye E, Kupka RW, Bohlmeijer ET. Exploring factors associated with personal recovery in bipolar disorder. Psychol Psychother. 2021;94:667-85. DOI: https://doi.org/10.1111/papt.12339
Weintraub MJ, Schneck CD, Walshaw PD, Chang KD, Sullivan AE, Singh MK, et al. Longitudinal trajectories of mood symptoms and global functioning in youth at high risk for bipolar disorder. J Affect Disord. 2020;277:394-401. DOI: https://doi.org/10.1016/j.jad.2020.08.018
Hancock J, Perich T. Personal recovery in psychological interventions for bipolar disorder: a systematic review. Aust Psychol. 2022;57:215-25. DOI: https://doi.org/10.1080/00050067.2022.2083484
Michalak EE, Yatham LN, Lam RW. Quality of life in bipolar disorder: a review of the literature. Health Qual Life Outcomes. 2005;3:72. DOI: https://doi.org/10.1186/1477-7525-3-72
Becerra R, Cruise K, Murray G, Bassett D, Harms C, Allan A, et al. Emotion regulation in bipolar disorder: are emotion regulation abilities less compromised in euthymic bipolar disorder than unipolar depressive or anxiety disorders? Open J Psychiatry. 2013;3:1-7. DOI: https://doi.org/10.4236/ojpsych.2013.34A001
Wingo AP, Baldessarini RJ, Holtzheimer PE, Harvey PD. Factors associated with functional recovery in bipolar disorder patients. Bipolar Disord. 2010;12:319-26.x DOI: https://doi.org/10.1111/j.1399-5618.2010.00808.x
Peters A, Sylvia LG, da Silva Magalhães PV, Miklowitz DJ, Frank E, Otto MW, et al. Age at onset, course of illness and response to psychotherapy in bipolar disorder: results from the systematic treatment enhancement program for bipolar disorder (STEP-BD). Psychol Med. 2014;44:3455-67. DOI: https://doi.org/10.1017/S0033291714000804
Hendrick V, Altshuler LL, Gitlin MJ, Hammen C. Gender and bipolar illness. J Clin Psychiatry. 2000;61:7623. DOI: https://doi.org/10.4088/JCP.v61n0514
Arnold LM. Gender differences in bipolar disorder. Psychiatr Clin North Am. 2003;26:595-620. DOI: https://doi.org/10.1016/S0193-953X(03)00036-4
Wright K, Dodd AL, Warren FC, Medina-Lara A, Dunn B, Harvey J, et al. Psychological therapy for mood instability within bipolar spectrum disorder: a randomised, controlled feasibility trial of a dialectical behaviour therapy-informed approach (the ThrIVe-B programme). Int J Bipolar Disord. 2021;9:20. DOI: https://doi.org/10.1186/s40345-021-00226-4
Bojic S, Becerra R. Mindfulness-based treatment for bipolar disorder: a systematic review of the literature. Eur J Psychol. 2017;13:573-98. DOI: https://doi.org/10.5964/ejop.v13i3.1138
Lovas DA, Schuman-Olivier Z. Mindfulness-based cognitive therapy for bipolar disorder: a systematic review. J Affect Disord. 2018;240:247-61. DOI: https://doi.org/10.1016/j.jad.2018.06.017
Eisner L, Eddie D, Harley R, Jacobo M, Nierenberg AA, Deckersbach T. Dialectical behavior therapy group skills training for bipolar disorder. Behav Ther. 2017;48:557-66. DOI: https://doi.org/10.1016/j.beth.2016.12.006
Salvatore P, Tohen M, Khalsa HM, Baethge C, Tondo L, Baldessarini RJ. Longitudinal research on bipolar disorders. Epidemiol Psychiatr Sci. 2007;16:109-17. DOI: https://doi.org/10.1017/S1121189X00004711
Miola A, Cattarinussi G, Antiga G, Caiolo S, Solmi M, Sambataro F. Difficulties in emotion regulation in bipolar disorder: a systematic review and metaanalysis. J Affect Disord. 2022;302:352-60. DOI: https://doi.org/10.1016/j.jad.2022.01.102
van Rheenen TE, Murray G, Rossell SL. Emotion regulation in bipolar disorder: profile and utility in predicting trait mania and depression propensity. Psychiatry Res. 2015;225:425-32. DOI: https://doi.org/10.1016/j.psychres.2014.12.001
Kurtz M, Mohring P, Förster K, Bauer M, Kanske P. Deficits in explicit emotion regulation in bipolar disorder: a systematic review. Int J bipolar Disord. 2021;9:15. DOI: https://doi.org/10.1186/s40345-021-00221-9
Hatcher L. A step-by-step approach to using the SAS system for factor analysis and structural equation modeling. North Carolina: SAS Institute, Inc.; 1994.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Secção
Licença
Direitos de Autor (c) 2024 Acta Médica Portuguesa
Este trabalho encontra-se publicado com a Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0.
Todos os artigos publicados na AMP são de acesso aberto e cumprem os requisitos das agências de financiamento ou instituições académicas. Relativamente à utilização por terceiros a AMP rege-se pelos termos da licença Creative Commons ‘Atribuição – Uso Não-Comercial – (CC-BY-NC)’.
É da responsabilidade do autor obter permissão para reproduzir figuras, tabelas, etc., de outras publicações. Após a aceitação de um artigo, os autores serão convidados a preencher uma “Declaração de Responsabilidade Autoral e Partilha de Direitos de Autor “(http://www.actamedicaportuguesa.com/info/AMP-NormasPublicacao.pdf) e a “Declaração de Potenciais Conflitos de Interesse” (http://www.icmje.org/conflicts-of-interest) do ICMJE. Será enviado um e-mail ao autor correspondente, confirmando a receção do manuscrito.
Após a publicação, os autores ficam autorizados a disponibilizar os seus artigos em repositórios das suas instituições de origem, desde que mencionem sempre onde foram publicados e de acordo com a licença Creative Commons