Exposição de Longo-prazo a Poluição do Ar Ambiente e sua Associação com Bem-Estar Mental, Depressão e Ansiedade: Um Estudo Representativo a Nível Nacional
DOI:
https://doi.org/10.20344/amp.21245Palavras-chave:
Exposição Ambiental, Partículas em Suspensão/efeitos adversos, Perturbações de Ansiedade, Perturbações Depressivas, Poluição do Ar/efeitos adversos, Saúde Mental, Stress PsicológicoResumo
Introdução: A exposição à poluição do ar ambiente poderá associar-se a doenças mentais comuns como as perturbações depressivas e ansiosas. A associação entre a exposição de longo prazo a partículas inferiores a 10 μm (PM10) e estas doenças não está claramente estabelecida. Procurámos estimar a associação da exposição de longo prazo a PM10 com o bem-estar mental e a frequência de diagnóstico provável de doenças mentais comuns.
Métodos: Foi realizado um estudo transversal, representativo a nível nacional, em Portugal Continental. A exposição de longo prazo foi estimada através das concentrações médias de PM10 anuais, calculadas com dados da Agência Portuguesa do Ambiente e atribuídas individualmente considerando os códigos postais de residência de sete dígitos dos indivíduos. O bem-estar mental e o diagnóstico provável de doenças mentais comuns foram obtidos através da escala de cinco itens Mental Health Inventory. Aplicaram-se regressões lineares múltiplas e Poisson robustas para estimar percentuais de mudança, razões de prevalência (RP) e seus intervalos de confiança a 95% (IC 95%).
Resultados: A mediana (intervalo interquartil) da concentração de PM10 foi de 18,6 (15,3 - 19,3) μg/m3. A pontuação de bem-estar mental foi de 72 (56 - 84) pontos numa escala de 0 a 100. O diagnóstico provável de doenças mentais comuns foi observado em 22,7% (IC 95%: 20,0 a 25,6). A exposição de longo-prazo a PM10 associou-se à diminuição não estatisticamente significativa da pontuação de bem-estar mental [por cada aumento de 10 μg/m³ nas concentrações médias de PM10 anuais, ocorreu uma diminuição de 2% (IC 95%: -8 a 4)], e ao aumento não estatisticamente significativo da frequência de doenças mentais comuns (RP = 1,012, IC 95%: 0,979 a 1,045).
Conclusão: Não se verificaram associações estatisticamente significativas entre a exposição de longo prazo a PM10 e o bem-estar mental ou a frequência de diagnóstico provável de doenças mentais comuns. Os resultados podem ser explicados pela reduzida variabilidade observada nos valores de exposição, limitada pela disposição geográfica e funcionamento das estações de monitorização da qualidade do ar. Este estudo acrescenta evidência para níveis reduzidos de poluição atmosférica, sendo um dos primeiros a ajustar para variáveis individuais e populacionais. Foi também o primeiro estudo de base populacional, representativo a nível nacional, realizado na população portuguesa com dados de poluição efetivamente medidos.
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