Abordagem à Infeção pelo Vírus Citomegálico em Doentes Submetidos a Transplante Alogénico de Progenitores Hematopoiéticos
DOI:
https://doi.org/10.20344/amp.21441Palavras-chave:
Antivirais/uso terapêutico, Infecções por Citomegalovirus/etiologia, Infecções por Citomegalovirus/prevenção e controlo, Infecções por Citomegalovirus/tratamento farmacológico, Transplantação de Progenitores Hematopoiéticos/efeitos adversosResumo
O vírus citomegálico (CMV) é um tipo de vírus de ácido desoxirribonucleico de dupla cadeia que pertence à família herpesviridae. Após uma infeção primária, o vírus torna-se latente em vários tipos de glóbulos brancos. A infeção por CMV pode permanecer latente ou tornar-se ativa, especialmente em indivíduos imunodeprimidos, como aqueles submetidos a transplantes de células progenitoras hematopoiéticas (TPH), onde a reativação do CMV pode ocorrer. Neste contexto, a infeção por CMV é comum e associada a elevadas taxas de morbilidade e mortalidade. A pneumonite é uma das complicações mais graves, com taxas de mortalidade superiores a 50%. Além disso, mesmo na ausência de doença específica do órgão, a infeção por CMV está relacionada com um aumento da mortalidade não relacionada com a recidiva da neoplasia hematológica. Dada a frequência e gravidade desta infeção em doentes submetidos a TPH, é crucial implementar estratégias eficazes de monitorização, prevenção e tratamento. Este protocolo foi desenvolvido para identificar os grupos de doentes que se beneficiam de uma abordagem sistematizada para a infeção por CMV e definir a estratégia mais adequada para cada grupo. A monitorização da carga viral de CMV no sangue periférico é fundamental, especialmente em doentes com risco moderado a elevado de infeção ativa. A profilaxia primária com letermovir (fármaco antiviral) é recomendada para reduzir a incidência de infeção ativa, especialmente em doentes com alto risco. A profilaxia secundária com valganciclovir (fármaco antiviral) é recomendada após um episódio de infeção ativa, enquanto o tratamento de antecipação e de doença é baseado na monitorização da carga viral e na resposta clínica. Este protocolo visa melhorar a abordagem da infeção por CMV em doentes submetidos a TPH, garantindo uma abordagem preventiva e terapêutica eficaz e segura.
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