A Reconciliação da Medicação nos Cuidados de Saúde Primários: Práticas, Conhecimentos e Atitudes na Região de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo

Autores

  • Raquel Ascenção Laboratório de Farmacologia Clínica e Terapêutica. Faculdade de Medicina. Universidade de Lisboa. Lisboa; Unidade de Farmacologia Clínica. Unidade Local de Saúde São José. Lisboa; Centro Clínico Académico de Lisboa. Lisboa. https://orcid.org/0000-0002-9086-0973
  • Mariana Almeida Hospital de Portimão. Unidade Local de Saúde do Algarve. Portimão.
  • Cristina Ribeiro Clínica Universitária de Medicina Geral e Familiar. Faculdade de Medicina. Universidade de Lisboa. Lisboa; Unidade de Estilos de Vida Saudáveis. Instituto de Medicina Preventiva e Saúde Pública. Faculdade de Medicina. Universidade de Lisboa. Lisboa; Departamento da Qualidade. Direção-Geral da Saúde. Lisboa.
  • Paula Broeiro Centro Clínico Académico de Lisboa. Lisboa; Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados dos Olivais. Unidade Local de Saúde São José. Lisboa; NOVA Medical School. Universidade NOVA de Lisboa. Lisboa. https://orcid.org/0000-0002-5013-6171
  • João Costa Laboratório de Farmacologia Clínica e Terapêutica. Faculdade de Medicina. Universidade de Lisboa. Lisboa; Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes. Lisboa. https://orcid.org/0000-0002-5831-4921

DOI:

https://doi.org/10.20344/amp.21629

Palavras-chave:

Cuidados Centrados no Doente, Cuidados de Saúde Primários, Erros de Medicação/prevenção e controlo, Portugal, Reconciliação de Medicamentos

Resumo

Introdução: Apesar da relevância da reconciliação da medicação para a continuidade dos cuidados, atualmente, não existe informação relativa às práticas, conhecimentos e atitudes dos médicos de família nacionais sobre este assunto. Este estudo teve como objetivos caracterizar os procedimentos formais de reconciliação da medicação em vigor na Região de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, bem como a perceção dos médicos de família desta região sobre o que sabem, como pensam e como praticam a reconciliação da medicação.
Métodos: Foi conduzido um estudo observacional, transversal e descritivo, utilizando duas unidades de observação: unidades de cuidados de saúde primários (estudo 1) e médicos de família (estudo 2) da Região de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo. A recolha de dados realizou-se através de dois questionários de autopreenchimento, disponibilizados online.
Resultados: Participaram 89 unidades de cuidados de saúde primários e 208 médicos de família (taxas de resposta de 31% e 12%, respetivamente). Verificou-se que apenas uma em cada quatro unidades (n = 22/89) tinha um procedimento formal de reconciliação da medicação em vigor. Entre as unidades com procedimento formal, existe variabilidade em alguns parâmetros, ainda que todos incluam os médicos. Mais de 70% (n = 150; 72,1%) dos médicos referiram ter contacto prévio com o termo ‘reconciliação da medicação’, e metade (n = 104; 50,0%) referiu realizar reconciliação da medicação em mais de 75% das consultas após alta hospitalar. Não se identificaram diferenças relativamente à frequência com que os médicos praticam reconciliação da medicação após alta hospitalar em função da sua idade, sexo, tipo de unidade onde trabalham e volume de consultas. A maioria dos médicos (n = 155; 74,5%) inclui no processo os três passos preconizados pela Direção-Geral da Saúde à data, e resolve as discrepâncias sem contactar o médico hospitalar (n = 168; 88,8%). Os médicos reconhecem a importância da reconciliação da medicação (mais de 95% estão de acordo/totalmente de acordo), ainda que o nível de concordância quanto à sua responsabilização sobre esta prática seja inferior.
Conclusão: A proporção de unidades de cuidados de saúde primários com procedimento formal de reconciliação da medicação é baixa. Apesar dos médicos de família da Região de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo valorizarem a reconciliação da medicação, não a incluem em todas as consultas após internamento hospitalar. A comunicação entre níveis de cuidados e a padronização dos processos são áreas com potencial de melhoria, com vista ao objetivo de promover a segurança da utilização dos medicamentos, centrada no doente.

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Publicado

2025-01-02

Como Citar

1.
Ascenção R, Almeida M, Ribeiro C, Broeiro P, Costa J. A Reconciliação da Medicação nos Cuidados de Saúde Primários: Práticas, Conhecimentos e Atitudes na Região de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo. Acta Med Port [Internet]. 2 de Janeiro de 2025 [citado 8 de Janeiro de 2025];38(1):5-15. Disponível em: https://actamedicaportuguesa.com/revista/index.php/amp/article/view/21629

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