Impacto Económico da Vigilância de Doentes com Traumatismo Cranio-Encefálico, Coagulopatias e Tomografia Computorizada Inicial Normal (ECO-NCT)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.20344/amp.21661

Palavras-chave:

Anticoagulantes, Custos e Análise de Custos, Tomografia Computorizada, Traumatismo Crânio-Encefálico/diagnóstico por imagem

Resumo

Introdução: De acordo com as normas de orientação clínica portuguesas de 1999, os doentes com traumatismos cranioencefálicos e coagulopatias deverão ser mantidos em vigilância intra-hospitalar por um período de 24 horas para reavaliação clínica e imagiológica, mesmo quando não existem lesões intracranianas na tomografia computorizada crânio-encefálica (TC-CE) inicial. Existe evidência científica crescente de que não só esta prática clínica poderá ser irrelevante, como também poderá gerar mais dano do que benefício. Não obstante, até à data não existem dados publicados acerca do impacto económico desta prática clínica.
Métodos: Através de uma análise de custos foram comparados os dados retrospetivos do nosso centro hospitalar, durante o ano de 2022 com os dados de um cenário hipotético em que um doente com uma TC-CE inicial normal teria alta clínica. Simultaneamente, foram obtidos dados clínicos relativamente à taxa de hemorragia tardia na imagem de TC-CE de 24 horas e à mortalidade a seis meses. Os custos diretos para o Serviço Nacional de Saúde foram determinados em termos monetários e tempo investido pela equipa médica.
Resultados: De uma amostra de 440 doentes, 436 mantiveram vigilância intra-hospitalar por um período de 24 horas com reavaliação clínica e imagiológica, de entre os quais apenas dois (0,4%) demonstraram uma lesão intracraniana na segunda imagem de TC-CE. Nenhum destes dois doentes necessitou de terapêutica dirigida para controlo da hemorragia, tendo tido alta às 36 horas. Do total dos 440 doentes, um (0,2%) faleceu durante o período de vigilância de 24 horas por motivo de paragem cardiorrespiratória, após a realização de uma imagem de TC-CE sem evidência de lesão intracraniana. A nossa prática de vigilância atual envolveu custos diretos estimados em €163 157,00, enquanto o cenário hipotético perfez o total de €29 480,00, representando uma diferença de €133 677,00. A aplicação do protocolo de vigilância previsto na norma também implicou um investimento adicional de nove turnos de urgência dedicados a esta prática, comparativamente com apenas 4,6 turnos se os doentes tivessem tido alta após um TC-CE inicial normal.
Conclusão: Além de aparentemente poder não acrescentar valor clínico à população de doentes analisada, este protocolo de vigilância poderá representar um custo financeiro e de tempo significativo, com um dispêndio monetário cinco vezes superior, requerendo o dobro do trabalho por parte das nossas equipas médicas.

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Publicado

2025-01-02

Como Citar

1.
Ribeiro da Costa T, Batata R, Oliveira S, Fernandes A, Sousa S, Vaz Silva F, Sá Pinto V, Tizziani M, Cunha E, Calheiros A. Impacto Económico da Vigilância de Doentes com Traumatismo Cranio-Encefálico, Coagulopatias e Tomografia Computorizada Inicial Normal (ECO-NCT). Acta Med Port [Internet]. 2 de Janeiro de 2025 [citado 8 de Janeiro de 2025];38(1):16-22. Disponível em: https://actamedicaportuguesa.com/revista/index.php/amp/article/view/21661

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