Desprescrição nos Idosos: Atitudes, Conhecimento, Formação e Prática Clínica dos Médicos Portugueses
DOI:
https://doi.org/10.20344/amp.21677Palavras-chave:
Desprescrição, Idoso, Inquéritos e Questionários, Padrões de Prática Médica, PortugalResumo
Introdução: A importância da desprescrição na prática clínica tem aumentado, especialmente em populações envelhecidas e com polimedicação, tornando-a uma questão crucial em Portugal, um dos países mais envelhecidos da Europa. Este estudo teve como objetivo investigar a consciencialização, formação, atitudes e práticas de desprescrição entre os médicos portugueses, a fim de informar futuras estratégias e políticas de saúde.
Métodos: Estudo transversal com recurso a um questionário online anónimo aos médicos portugueses, disseminado com a colaboração da Ordem dos Médicos. Foram recolhidos dados sociodemográficos, profissionais e relativos à desprescrição (consciencialização, atitudes, formação e prática clínica). A estatística descritiva inclui frequências, percentagens, medianas e intervalos interquartis. Foram aplicados o teste do qui-quadrado e o teste exato de Fisher (variáveis categóricas) e o teste de Mann-Whitney U (variáveis contínuas). A significância estatística foi estabelecida em p < 0,05.
Resultados: Foram incluídos 425 médicos, maioritariamente do sexo feminino (61,6%), com média de idade de 45 anos (IQR 34 - 42). As especialidades médicas mais frequentes foram medicina geral e familiar (34,1%) e medicina interna (16,2%). Apesar de 81,2% dos respondentes conhecerem o termo ‘desprescrição’, 55,4% não possuíam formação na área. A maioria (91,9%) efetuava desprescrição, contudo, uma menor percentagem utilizava
metodologias específicas (39,8%) e critérios para identificar medicamentos potencialmente inapropriados (38,7%). Verificou-se uma associação da formação em desprescrição com uma maior consciencialização sobre a mesma (p < 0,001), utilização de métodos de desprescrição (p < 0,001), uso de critérios para identificar MPI (p < 0,001) e competência em Geriatria (p = 0,006). Os profissionais de medicina geral e familiar revelaram maior familiaridade e formação em desprescrição do que os especialistas hospitalares (p < 0,001), e referiram adotar mais frequentemente as metodologias de desprescrição (p = 0,004).
Conclusão: Este estudo destaca uma ampla consciencialização sobre a desprescrição entre os médicos portugueses, mas revela, simultaneamente, lacunas consideráveis na formação e inconsistências na sua aplicação. Estes resultados sublinham a urgente necessidade de iniciativas direcionadas à formação em desprescrição para a otimização da medicação nos idosos no sistema nacional de saúde. Os resultados enfatizam ainda a importância do desenvolvimento de políticas de saúde e da educação médica na promoção de uma desprescrição segura.
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