Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde em Idade Pediátrica: 10 Anos de Experiência num Serviço de Cuidados Intensivos

Autores

  • Cátia Martins *Co-primeira autora; Serviço de Cuidados Intensivos Pediátricos. Hospital Pediátrico. Unidade Local de Saúde de Coimbra. Coimbra. https://orcid.org/0000-0001-5990-7203
  • Daniela Lima *Co-primeira autora; Clínica Universitária de Pediatria. Faculdade de Medicina. Universidade de Coimbra. Coimbra. https://orcid.org/0009-0007-0467-4036
  • Mariana Cortez Ferreira Serviço de Cuidados Intensivos Pediátricos. Hospital Pediátrico. Unidade Local de Saúde de Coimbra. Coimbra. https://orcid.org/0000-0003-1556-9737
  • Joana Verdelho Andrade Serviço de Cuidados Intensivos Pediátricos. Hospital Pediátrico. Unidade Local de Saúde de Coimbra. Coimbra; Clínica Universitária de Pediatria. Faculdade de Medicina. Universidade de Coimbra. Coimbra. https://orcid.org/0000-0002-7128-2821
  • Andrea Dias Serviço de Cuidados Intensivos Pediátricos. Hospital Pediátrico. Unidade Local de Saúde de Coimbra. Coimbra; Clínica Universitária de Pediatria. Faculdade de Medicina. Universidade de Coimbra. Coimbra. https://orcid.org/0000-0001-5102-5388

DOI:

https://doi.org/10.20344/amp.22279

Palavras-chave:

Criança, Cuidados Intensivos, Infeção Hospitalar, Resistência Microbiana a Medicamentos, Unidades de Cuidados Intensivos Pediátricos

Resumo

Introdução: As infeções associadas aos cuidados de saúde são uma causa importante de morbimortalidade na população pediátrica, representando um problema crescente nos serviços de cuidados intensivos. Contudo, existem poucos estudos que caracterizam a realidade destas infeções na população pediátrica portuguesa. Este estudo pretendeu avaliar a sua prevalência num serviço de cuidados intensivos pediátrico português, identificando os microrganismos mais frequentes e o respetivo perfil de resistência aos antibióticos.
Métodos: Estudo de coorte retrospetivo que incluiu os doentes admitidos num serviço de cuidados intensivos pediátrico entre 1 de janeiro de 2014 e 31 de dezembro de 2023, com diagnóstico de infeções associadas aos cuidados de saúde durante o internamento.
Resultados: Identificaram-se 248 casos, correspondendo a uma prevalência de 6,3%, a maioria em lactentes. As infeções mais frequentes foram
pneumonia (45,2%) e bacteriemia (14,5%), sendo os agentes infeciosos mais comuns os Gram negativos, nomeadamente a Escherichia coli, a Pseudomonas
aeruginosa e a Klebsiella pneumoniae. Observou-se um aumento global das resistências antibióticas nos últimos cinco anos (2019 - 2023). A taxa de infeção por bactérias produtoras de ESBL, MRSA e ERC foi, respetivamente, 8,5%, 1,6% e 0,4%, superior nos anos 2019 - 2023. Houve 45 colonizações em 41 doentes (num total de 97 pesquisas realizadas): 40 a ESBL e 5 a ERC (sem colonizações por MRSA). A sépsis ocorreu em 29,8% casos e a mortalidade foi de 11,7% (4,0% devido à IACS). A exposição a tubo endotraqueal e a ventilação invasiva de longa duração associaram-se
a maior probabilidade de desenvolver pneumonia (OR = 2,5; IC 95%, 1,1 a 5,9; p = 0,03; e OR = 1,9; IC 95%, 1,1 a 3,4; p = 0,011; respetivamente).
Conclusão: É fundamental implementar estratégias eficazes para prevenir e controlar a disseminação das bactérias resistentes, assegurando a eficácia das terapêuticas atuais, a segurança dos doentes e a proteção da saúde pública.

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Publicado

2025-01-02

Como Citar

1.
Martins C, Lima D, Cortez Ferreira M, Verdelho Andrade J, Dias A. Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde em Idade Pediátrica: 10 Anos de Experiência num Serviço de Cuidados Intensivos. Acta Med Port [Internet]. 2 de Janeiro de 2025 [citado 8 de Janeiro de 2025];38(1):23-36. Disponível em: https://actamedicaportuguesa.com/revista/index.php/amp/article/view/22279

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