Internato de Formação Especializada em Doenças Infeciosas: Caracterização e Perceção sobre o Ambiente Clínico de Aprendizagem
DOI:
https://doi.org/10.20344/amp.23187Palavras-chave:
Competência Clínica, Especialização, Infecciologia/educação, Inquéritos e Questionários, Internato e Residência, Médicos, PortugalResumo
Introdução: A Organização Mundial de Saúde definiu as 13 mais importantes ameaças à Saúde Global da década, das quais se destacam a prevenção de doenças infeciosas e a resistência antimicrobiana. Dada a evolução célere da evidência científica e a necessidade de atualização, é imperativo discutir a formação em Doenças Infeciosas. Este estudo teve como objetivo caracterizar e explorar a perceção dos inquiridos relativamente à formação em Doenças Infeciosas e ao ambiente clínico de aprendizagem.
Métodos: Foi desenvolvido um questionário sobre os ambientes clínicos de aprendizagem, dirigido a médicos internos e recém-especialistas que tenham concluído o seu programa de formação nos últimos cinco anos, inclusive.
Resultados: O questionário obteve 73 respostas, 75,3% de médicos internos. A maioria concordou com a duração dos estágios de Medicina Interna (83,5%), Microbiologia (76,7%) e Infeciologia Geral (71,2%), mas considerou que o estágio de Medicina Intensiva deveria ter uma duração inferior a seis meses. Foi sugerido que as áreas de Controlo de Infeção/Prescrição Antibiótica e de Imunossupressão/Risco Infecioso tivessem estágios obrigatórios, por 84,9% e 65,8% dos participantes, respetivamente. A maioria (67,1%) dos inquiridos considerou prejudicial a realização de urgência externa de Medicina Interna para além do respetivo estágio, sendo que 84,6% dos participantes da ARS Norte realizaram esta atividade apenas durante o 1.º ano, em contraste com 86,8% da ARS LVT cuja atividade se prolongou pelo menos até ao 4.º ano. No que concerne à produção assistencial e científica, comparativamente aos médicos internos da ARS LVT, os da ARS Norte reportaram, em média, um maior número de consultas assistidas (21,7/17,1) e realizadas (20,8/17,7), semanalmente, assim como um maior número de participações (3,7/3,1) e apresentações (2,8/2,4) anuais em eventos científicos, artigos publicados (1,1/0,6) e horas de estudo semanais (7,4/4,5). As principais dificuldades reportadas foram a ausência de tempo de estudo dedicado no horário, a atualização científica e a realização de Urgência Externa de Medicina Interna. Sobre a avaliação do internato, apenas 2,7% concordaram totalmente com o modelo de exame atual e 1,37% com a grelha curricular atual. A maioria (64,4%) dos participantes consideraram-se, pelo menos, satisfeitos com a especialidade.
Conclusão: Os resultados sugerem uma necessidade de rever o programa formativo, incluir novas áreas de especialização e discutir os modelos de avaliação ao longo do Internato. Verificam-se assimetrias regionais ao nível do exercício de funções em contexto de urgência externa de Medicina Interna e da produção assistencial e científica, o que condiciona a equidade e qualidade da formação. A discussão da formação em Doenças Infeciosas é crucial para a adaptação do programa formativo aos desafios atuais e futuros.
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