Fenda Lábio-Palatina: Diagnóstico Pré-Natal, Estudo Genético e Desfechos da Gravidez num Centro Terciário de Referência
DOI:
https://doi.org/10.20344/amp.23371Palavras-chave:
Anomalias Congenitas/diagnóstico, Diagnóstico Prenatal, Fenda Labial, Fenda Palatina, Resultado da Gravidez, Testes GenéticosResumo
Introdução: As fendas lábio-palatinas são malformações congénitas frequentes que podem ocorrer isoladamente ou em associação com outras malformações. O diagnóstico pré-natal precoce é fundamental para o aconselhamento parental, planeamento do parto e organização de cuidados neonatais multidisciplinares. O objectivo deste estudo foi rever os casos de fenda lábio-palatina diagnosticados no período pré-natal e avaliar a relação entre o tipo de fenda, malformações associadas, achados genéticos e desfechos da gravidez.
Métodos: Este estudo retrospetivo incluiu todos os fetos com diagnóstico pré-natal de fenda labial e/ou palatina acompanhados na Unidade Local de Saúde São João entre janeiro de 2014 e dezembro de 2023. Foram recolhidos os dados relativos a características maternas, sexo fetal, idade gestacional ao diagnóstico, malformações associadas, testes genéticos e estudo anatomopatológico e desfechos da gravidez.
Resultados: Foram incluídos 48 fetos. O diagnóstico pré-natal foi realizado maioritariamente no segundo trimestre (77,1%), sendo que todos os diagnósticos no primeiro trimestre estavam associados a outras anomalias. No total, 20 fetos (41,7%) apresentavam fendas sindrómicas ou não isoladas, correspondendo a todos os casos com alterações cromossómicas ou genéticas neste estudo. Nos casos de fenda isolada (58,3%), os testes genéticos foram sempre normais, tendo-se identificado apenas duas anomalias adicionais no período pós-natal. Dezoito gravidezes foram interrompidas, essencialmente nos casos com malformações associadas.
Conclusão: Nesta série de casos retrospetiva, as alterações cromossómicas e genéticas foram identificadas apenas nos casos de fendas sindrómicas ou com malformações adicionais. Nos casos isolados, os testes genéticos foram invariavelmente normais. Estes resultados reforçam que a realização de testes genéticos pré-natais pode ser mais útil quando existem malformações associadas ou história familiar relevante. São necessários estudos multicêntricos para validar esta abordagem e definir protocolos estandardizados.
Downloads
Referências
Farladansky-Gershnabel S, Gluska H, Halevi N, Kotser N, Sharon-Weiner M, Schreiber H, et al. Cleft lip and/or cleft palate: prenatal accuracy, postnatal course, and long-term outcomes. Children. 2022;9:1880. DOI: https://doi.org/10.3390/children9121880
Chmait R, Pretorius D, Moore T, Hull A, James G, Nelson T, et al. Prenatal detection of associated anomalies in fetuses diagnosed with cleft lip with or without cleft palate in utero. Ultrasound Obstet Gynecol. 2006;27:173-6. DOI: https://doi.org/10.1002/uog.2593
Celik OY, Bucak M, Saglam E, Kahraman NC, Kaymak AO, Arat O, et al. Diagnostic performance of two ultrasound techniques for the detection of cleft palate without cleft lip: axial-transverse and equal sign. Eur Rev Med Pharmacol Sci. 2023;27:1971-9.
Basha M, Demeer B, Revencu N, Helaers R, Theys S, Bou Saba S, et al. Whole exome sequencing identifies mutations in 10% of patients with familial non-syndromic cleft lip and/or palate in genes mutated in well-known syndromes. J Med Genet. 2018;55:449-58. DOI: https://doi.org/10.1136/jmedgenet-2017-105110
Kini U. Genetics and orofacial clefts: a clinical perspective. Br Dent J. 2023;234:947-52. DOI: https://doi.org/10.1038/s41415-023-5994-3
Vallino-Napoli LD, Riley MM, Halliday JL. An epidemiologic study of orofacial clefts with other birth defects in Victoria, Australia. Cleft Palate Craniofac J. 2006;43:571-6. DOI: https://doi.org/10.1597/05-123
Setó-Salvia N, Stanier P. Genetics of cleft lip and/or cleft palate: association with other common anomalies. Eur J Med Genet. 2014;57:381-93. DOI: https://doi.org/10.1016/j.ejmg.2014.04.003
Beriaghi S, Myers SL, Jensen SA, Kaimal S, Chan CM, Schaefer GB. Cleft lip and palate: association with other congenital malformations. J Clin Pediatr Dent. 2009;33:207-10. DOI: https://doi.org/10.17796/jcpd.33.3.c244761467507721
Ács M, Cavalcante BG, Bănărescu M, Wenning AS, Hegyi P, Szabó B, et al. Maternal factors increase risk of orofacial cleft: a meta-analysis. Sci Rep. 2024;14:28104. DOI: https://doi.org/10.1038/s41598-024-79346-7
Cheng X, Du F, Long X, Huang J. Genetic inheritance models of non-syndromic cleft lip with or without palate: from monogenic to polygenic. Genes. 2023;14:1859. DOI: https://doi.org/10.3390/genes14101859
Divya K, Iyapparaja P, Raghavan A, Diwakar MP. Accuracy of prenatal ultrasound scans for screening cleft lip and palate: a systematic review. J Med Ultrasound. 2022;30:169-75. DOI: https://doi.org/10.4103/jmu.jmu_20_22
Lee MS, Cho JY, Kim SY, Kim SH, Park JS, Jun JK. Value of sagittal color Doppler ultrasonography as a supplementary tool in the differential diagnosis of fetal cleft lip and palate. Ultrasonography. 2017;36:53-9. DOI: https://doi.org/10.14366/usg.16025
Chaoui R, Orosz G, Heling KS, Sarut-Lopez A, Nicolaides KH. Maxillary gap at 11-13 weeks’ gestation: marker of cleft lip and palate. Ultrasound Obstet Gynecol. 2015;46:665-9. DOI: https://doi.org/10.1002/uog.15675
Wu S, Han J, Zhen L, Ma Y, Li D, Liao C. Prospective ultrasound diagnosis of orofacial clefts in the first trimester. Ultrasound Obstet Gynecol. 2021;58:134-7. DOI: https://doi.org/10.1002/uog.22123
Sepulveda W, Wong AE, Martinez-Ten P, Perez-Pedregosa J. Retronasal triangle: a sonographic landmark for the screening of cleft palate in the first trimester. Ultrasound Obstet Gynecol. 2010;35:7-13. DOI: https://doi.org/10.1002/uog.7484
Lakshmy SR, Rose N, Masilamani P, Umapathy S, Ziyaulla T. Absent ‘superimposed-line’ sign: novel marker in early diagnosis of cleft of fetal secondary palate. Ultrasound Obstet Gynecol. 2020;56:906-15. DOI: https://doi.org/10.1002/uog.21931
Lachmann R, Schilling U, Brückmann D, Weichert A, Brückmann A. Isolated cleft lip and palate: maxillary gap sign and palatino-maxillary diameter at 11–13 weeks. Fetal Diagn Ther. 2017;44:241-6. DOI: https://doi.org/10.1159/000481773
Platt LD, Devore GR, Pretorius DH. Improving cleft palate/cleft lip antenatal diagnosis by 3-dimensional sonography: the “flipped face” view. J Ultrasound Med. 2006;25:1423-30. DOI: https://doi.org/10.7863/jum.2006.25.11.1423
Ramos GA, Ylagan MV, Romine LE, D’Agostini DA, Pretorius DH. Diagnostic evaluation of the fetal face using 3-dimensional ultrasound. Ultrasound Q. 2008;24:215-23. DOI: https://doi.org/10.1097/RUQ.0b013e31819073c2
Stanier P, Moore GE. Genetics of cleft lip and palate: syndromic genes contribute to the incidence of non-syndromic clefts. Hum Mol Genet. 2004;13:R73-81. DOI: https://doi.org/10.1093/hmg/ddh052
Beaty TH, Marazita ML, Leslie EJ. Genetic factors influencing risk to orofacial clefts: today’s challenges and tomorrow’s opportunities. F1000Res. 2016;5:2800. DOI: https://doi.org/10.12688/f1000research.9503.1
Maarse W, Pistorius LR, Van Eeten WK, Breugem CC, Kon M, Van den Boogaard MJ, et al. Prenatal ultrasound screening for orofacial clefts. Ultrasound Obstet Gynecol. 2011;38:434-9. DOI: https://doi.org/10.1002/uog.8895
Calzolari E, Pierini A, Astolfi G, Bianchi F, Neville AJ, Rivieri F. Associated anomalies in multi-malformed infants with cleft lip and palate: an epidemiologic study of nearly 6 million births in 23 EUROCAT registries. Am J Med Genet A. 2007;143a:528-37. DOI: https://doi.org/10.1002/ajmg.a.31447
Monlleó IL, Barros AG, Fontes MI, Andrade AK, de M Brito G, Nascimento DL, et al. Diagnostic implications of associated defects in patients with typical orofacial clefts. J Pediatr. 2015;91:485-92. DOI: https://doi.org/10.1016/j.jped.2014.12.001
Yuan Q, Blanton SH, Hecht JT. Association of ABCA4 and MAFB with non-syndromic cleft lip with or without cleft palate. Am J Med Genet A. 2011;155a:1469-71. DOI: https://doi.org/10.1002/ajmg.a.33940
Zawiślak A, Woźniak K, Agirre X, Gupta S, Kawala B, Znamirowska-Bajowska A, et al. Association of ABCA4 gene polymorphisms with cleft lip with or without cleft palate in the Polish population. Int J Environment Res Pub Health. 2021;18:11483. DOI: https://doi.org/10.3390/ijerph182111483
Sheppard SE, Quintero-Rivera F. Wiedemann-Steiner syndrome. In: Adam MP, Feldman J, Mirzaa GM, Pagon RA, Wallace SE, Amemiya A, editors. GeneReviews(®). Seattle: University of Washington, Seattle; 1993.
Veroniki AA, Cogo E, Rios P, Straus SE, Finkelstein Y, Kealey R, et al. Comparative safety of anti-epileptic drugs during pregnancy: a systematic review and network meta-analysis of congenital malformations and prenatal outcomes. BMC Med. 2017;15:95. DOI: https://doi.org/10.1186/s12916-017-0845-1
Babai A, Irving M. Orofacial clefts: genetics of cleft lip and palate. Genes. 2023;14:1603. DOI: https://doi.org/10.3390/genes14081603
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Secção
Licença
Direitos de Autor (c) 2025 Acta Médica Portuguesa

Este trabalho encontra-se publicado com a Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0.
Todos os artigos publicados na AMP são de acesso aberto e cumprem os requisitos das agências de financiamento ou instituições académicas. Relativamente à utilização por terceiros a AMP rege-se pelos termos da licença Creative Commons ‘Atribuição – Uso Não-Comercial – (CC-BY-NC)’.
É da responsabilidade do autor obter permissão para reproduzir figuras, tabelas, etc., de outras publicações. Após a aceitação de um artigo, os autores serão convidados a preencher uma “Declaração de Responsabilidade Autoral e Partilha de Direitos de Autor “(http://www.actamedicaportuguesa.com/info/AMP-NormasPublicacao.pdf) e a “Declaração de Potenciais Conflitos de Interesse” (http://www.icmje.org/conflicts-of-interest) do ICMJE. Será enviado um e-mail ao autor correspondente, confirmando a receção do manuscrito.
Após a publicação, os autores ficam autorizados a disponibilizar os seus artigos em repositórios das suas instituições de origem, desde que mencionem sempre onde foram publicados e de acordo com a licença Creative Commons

