Pneumonia por Pneumocystis em 107 Doentes com Infecção por VIH Internados no Serviço de Doenças Infecciosas, Hospital de Santa Maria, Lisboa (2002 - 2013)
DOI:
https://doi.org/10.20344/amp.7022Palavras-chave:
Infecções por VIH, Pneumocystis jirovecii, Pneumonia por Pneumocystis, Portugal.Resumo
Introdução: A pneumonia por Pneumocystis jirovecii é das doenças infecciosas oportunistas mais comuns em infectados por vírus da imunodeficiência humana, sendo, actualmente, em Portugal a infecção definidora de sida mais reportada. Os objectivos deste estudo foram, analisar as características de uma população co-infectada por vírus da imunodeficiência humana e pneumonia por Pneumocystis jirovecii, comparando-a com as referências disponíveis, e avaliar comparativamente subpopulações de doentes, consoante o conhecimento prévio da infecção por vírus da imunodeficiência humana, o método de diagnóstico de pneumonia por Pneumocystis jirovecii e o resultado na alta.
Material e Métodos: Realizámos um estudo restrospectivo pela análise dos registos clínicos de 107 doentes internados no Serviço de Doenças Infecciosas do Hospital de Santa Maria, entre 1 de janeiro de 2002 e 31 de dezembro de 2013, com o diagnóstico de pneumonia por Pneumocystis jirovecii e vírus da imunodeficiência humana. As características epidemiológicas e clínicas foram avaliadas, incluindo o estado imunitário, a carga vírica e a terapêutica instituída e foi realizado um estudo estatístico das variáveis.
Resultados: Nesta população, os resultados demonstraram predomínio do sexo masculino (81,3%), idade entre 20 - 39 anos (59,2%), transmissão de vírus da imunodeficiência humana por via heterossexual (48,6%), e que 24,3% eram imigrantes. Apesar do conhecimento da infecção por vírus da imunodeficiência humana (62,6%), 76,2% destes doentes não apresentava seguimento médico sustentado. A contagem de linfócitos TCD4+ ≤ 200 células/mm3
(96,3%), carga vírica elevada e candidose orofaríngea (72%) foram os principais factores de risco para o desenvolvimento de pneumonia por Pneumocystis jirovecii, e os marcadores de gravidade, como a hipoxemia (78,5%) e a elevação da LDH (82,2%) não traduziram pior prognóstico. Apenas foi possível isolar Pneumocystis jirovecii (e portanto, confirmar definitivamente o diagnóstico) em 55,1% dos doentes. A terapêutica etiotrópica mais utilizada foi o trimetoprimsulfametoxazol (91,6%), associado a corticóides (75,7%). A mortalidade foi de 13,1%.
Discussão: Na análise comparativa entre grupos, constantou-se que os doentes utilizadores de drogas injectáveis conhecem com maior frequência o estado de seropositividade para o vírus da imunodeficiência humana, previamente ao internamento, o que poderá ser explicado pela maior implementação de programas de proximidade e de rastreio oportunista junto das populações de utilizadores de drogas injectáveis. No entanto, o seguimento e tratamento não são mantidos devido à má adesão aos mesmos, pelo que os doentes apresentam um risco aumentado para o desenvolvimento de pneumonia por Pneumocystis jirovecii e de outras doenças relacionadas com a sida. Apesar de a apresentação clínica da pneumonia por Pneumocystis jirovecii, no grupo de doentes avaliado, ser coincidente com o quadro mais comum desta patologia, o recurso aos cuidados de saúde foi tardio, sobretudo nos doentes com apresentação inaugural da infecção por vírus da imunodeficiência humana, e o diagnóstico difícil, quer pelas características inerentes às técnicas de diagnóstico de pneumonia por Pneumocystis, à presença de infecção respiratória concomitante e ao grau de suspeição clínica.
Conclusão: Neste grupo de doentes, as características estudadas são semelhantes às descritas na literatura, particularmente considerando
o padrão epidemiológico da infecção por vírus da imunodeficiência humana e Pneumocystis jirovecii em Portugal, sendo as principais diferenças encontradas a maior frequência de diagnóstico de pneumonia por Pneumocystis jirovecii em utilizadores de drogas injectáveis, comparativamente ao grupo de homens que têm relações sexuais com homens, a importância de episódios prévios/recorrentes de pneumonia por Pneumocystis jirovecii como factor de risco, e a frequência em que está presente patologia pulmonar concomitante. Os doentes falecidos apresentaram menos achados imagiológicos sugestivos de Pneumocystis jirovecii, e a idade avançada constituiu um factor pior prognóstico nesta população.
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