Défice de Vitamina B12 na Diabetes Mellitus Tipo 2
DOI:
https://doi.org/10.20344/amp.8860Palavras-chave:
Deficiência de Vitamina B 12, Diabetes Mellitus Tipo 2, Metformina, Portugal, Vitamina B 12Resumo
Introdução: A diabetes mellitus tipo 2 é uma entidade comum, afetando até 13,1% da população portuguesa. Para além das conhecidas complicações micro e macrovasculares, as iatrogenias medicamentosas tornaram-se uma crescente preocupação contribuindo para as observadas alterações das recomendações terapêuticas, que cada vez mais privilegiam a segurança em detrimento da eficácia. A metformina é o agente farmacológico de primeira linha na maioria dos doentes com diabetes mellitus tipo 2, contudo, está descrita a associação com défice de vitamina B12 em até 30% dos doentes. Os autores descrevem a prevalência de défice de vitamina B12 numa população diabética e os possíveis fatores associados à mesma.
Material e Métodos: Foi efectuado um estudo retrospectivo, observacional no qual foram registados os dados clínico-laboratoriais de doentes com diabetes mellitus tipo 2 com doseamentos de B12 na última década (2005 - 2016). Foram excluídos doentes submetidos a cirurgia bariátrica e com síndromes malabsorptivos conhecidos. Foi efectuada análise estatística dos dados e os resultados foram considerados estatisticamente significativos para p < 0,05.
Resultados: Foram estudados 1007 doentes com uma idade média de 66,4 ± 12,2 anos e 11 ± 10,4 anos de evolução da diabetes mellitus tipo 2, das quais 58% eram mulheres. Apresentavam uma elevada prevalência de complicações: doença renal diabética 47,7%, neuropatia 9,2%, retinopatia 14,9%, doença coronária 8,4%, doença vascular cerebral 10,9% e doença arterial periférica 5,5%. O défice de B12 (< 174 ng/dL) foi documentado em 21,4% da população e neste subgrupo constatou-se uma idade mais avançada (68,4 vs 65,8 anos; p = 0,006), maior duração da diabetes (13,35 vs 10,36 anos; p = 0,001), maior prevalência de retinopatia (20,9% vs 13,3%; p = 0,005) e disfunção tiroideia (34% vs 23,7%; p = 0,002). O défice de B12 foi mais frequente nos doentes expostos à metformina (24,7% vs 15,8%; p = 0,017), antiagregantes (25,4% vs 16,2%; p < 0,001) e bloqueadores dos canais de cálcio (26,8% vs 18,2%; p = 0,001). Após ajuste para factores de confundimento, a metformina, hipotiroidismo, idade e anos de evolução da diabetes mellitus tipo 2 mantiveram uma associação estatisticamente significativa, o que não se verificou com a retinopatia e os bloqueadores
dos canais de cálcio.
Discussão: Apesar do desenho retrospectivo, os resultados alertam para a elevada prevalência do défice de vitamina B12 na população com diabetes mellitus tipo 2. O presente estudo demonstra que o risco parece ser maior em populações com idades mais avançadas, com maior tempo de evolução da diabetes mellitus, com hipotiroidismo e sob metformina.
Conclusão: São necessários mais estudos para que se possam identificar os factores de risco para o défice de B12. O reconhecimento dessas variáveis contribuirá para optimizar o rastreio e prevenção do défice de B12 na diabetes mellitus tipo 2.
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